domingo, 28 de dezembro de 2008

"RE-CITANDO"

Uma pessoa muito especial fez essa poesia pra mim, durante uma fase difícil que passei. Colocaram numa comunidade (extinta) do orkut de poesias que eu tinha.
"Re-citando" retrata um desejo de ver alguém se erguer, após uma queda profunda e longa, à qual muitos de nós infelizmente somos submetidos. Estou tentando renascer... ressurgir... reagir...


"Renasça... Ressurja...
Reaja... Reanime-se...

Retorne... Refaça...
Reconstrua... Releve...

Relaxe... Reorganize-se...
Reestabeleça-se... Realize-se...

Relacione-se...
Renove...
Reflita...
Reluza...

Renasça!"



(Thalia Britto)

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

CALENDÁRIO


É primeiro de janeiro...
Que ressaca... que situação!
“Ano novo, vida nova!”
Um pouco de hipocrisia se não houver ação.

Quando menos se espera, chega o carnaval
Onde a vaidade é o atrativo do verão
Imbecis bebem e vão às estradas
E o caos substitui a diversão.

Logo após, chega a semana-santa
Resumida em chocolate e feriadão
O povo enche a cara de vinho
Hipócritas que ainda dizem ser cristãos.

Depois vêm as festas juninas
Fogueiras e bandeirinhas de São João
Fogos, bagunça, forró em toda esquina
Bebida, violência e confusão.

Os meses lentamente vão passando
O povo cada vez na lama e não se vê solução
Os idosos para o governo, não existem
E a juventude em massa vive em depressão

“Chegou a hora de mudar o país”
Assim falam os parasitas em eleição.
E o país aos poucos se afundando
Tanto por inconsciência do povo, como por falta de opção.

Chegam enfim, as festas natalinas
Ceia, árvore de natal, “confraternização”
Tudo não passa de uma insignificante troca de presentes
E falsos abraços e apertos de mão.

É deprimente quando chega o fim do ano
Quando todos fazem planos pra melhorar o seu padrão
Mas logo as promessas se desfazem no vento
E os sonhos nunca se realizarão.

Estamos em mais um fim de ano, começo de século
E persistem a monotonia e a solidão
Dia após dia, a morte está mais viva
Enquanto o tempo nos corre pelas mãos.

A fome está na mesa, a saúde está doente
É ignorante a nossa educação
E o mundo vai girando
Sem nenhuma direção.


(Ícaro Martins)

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

PEQUENAS PORÇÕES DE ILUSÃO


PEQUENAS PORÇÕES DE FALSA ALEGRIA
DOSES ÚNICAS DE ILUSÃO
ALÍVIO INSTANTÂNEO PARA UMA DOR INFINITA
CÁPSULAS ADIADORAS DE DESESPERO

ESTADO DORMENTE E CONFUSO
QUE INDUZ À LOUCURA
SONHO UTÓPICO DE LIBERDADE
DESSA PRISÃO SEM GRADES EM QUE ME ENCONTRO

PEQUENAS PORÇÕES DE APATIA
ESQUECIMENTO TEMPORÁRIO DE MOMENTOS INESQUECÍVEIS
DE DOR, DESESPERO E CONDENAÇÃO
BORRACHA QUE APAGA O QUE IRÁ SEMPRE SE REESCREVER.

(I. Martins)

sábado, 13 de dezembro de 2008

Passaram-se décadas em mim, em poucas horas
Para aprender a morrer sozinho
Nesse enorme mundo cheio de coisas vazias...

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

MEU SONHO


Meu sonho

EU

Cavaleiro das armas escuras,
Onde vais pelas trevas impuras
Com a espada sanguenta na mão?
Porque brilham teus olhos ardentes
E gemidos nos lábios frementes
Vertem fogo do teu coração?

Cavaleiro, quem és? o remorso?
Do corcel te debruças no dorso....
E galopas do vale através...
Oh! da estrada acordando as poeiras
Não escutas gritar as caveiras
E morder-te o fantasma nos pés?

Onde vais pelas trevas impuras,
Cavaleiro das armas escuras,
Macilento qual morto na tumba?
Tu escutas.... Na longa montanha
Um tropel teu galope acompanha?
E um clamor de vingança retumba?

Cavaleiro, quem és? — que mistério,
Quem te força da morte no império
Pela noite assombrada a vagar?
.
O FANTASMA
.
Sou o sonho de tua esperança,
Tua febre que nunca descansa,
O delírio que te há de matar!...

(Álvares de Azevedo)

domingo, 7 de dezembro de 2008

EM TUDO UM FIM

Promessas se desfazem.
Palavras se perdem.
Tempo se esvai
Feridas não se curam.
Máscaras caem.
Esperanças morrem.
Corações se partem.
Sonhos se destróem.
Muros se erguem.
Pontes se rompem
Luzes se apagam
E todos se vão.

(I. Martins)

sábado, 6 de dezembro de 2008

PEDAÇOS DE MIM NO CHÃO


No espaço onde eu habitava, não me encontro mais.
No mesmo lugar, está um velho par de sapatos;
Roupas num canto, outras na parede penduradas...
Na solidão, conversam entre si, em diálogos silenciosos;
Perguntam por mim.
Mas não estou.
Há tempos não me vêem, há tempos não saem;
Há tempos não me vestem; há tempos não me calçam os pés.
E não sabem onde estou.
É que sou feito do mesmo tecido que são feito os sonhos,
E como não mais tenho sonhos, tampouco tenho vida;
Tampouco existo.
Mas o que ainda há, são vestígios de mim.
Entre a poeira e o mofo, o silêncio e a solidão,
Pedaços de mim no chão.

(Roger Silva)

TENTANDO ENTENDER


Eu tento entender
O vazio dos dias,
A falta do dispensável,
A espera interminável
Por uma mudança ilusória.

Eu procuro encontrar
Uma palavra que possa compensar
Um cansaço do mal necessário,
Um alívio para a dor
Quase sempre desejada inconscientemente
Que nos enterra dia após dia.

Eu tento entender
O que eu não queria presenciar
Eu tento entender
Este lugar, onde eu não queria estar.

(I. Martins)

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

ANSIEDADE (FIM INTERMINÁVEL)

Eu quase morri de tédio e de ansiedade. Ultimamente, venho sentindo uma dor insuportável no peito. Acho que vou ter um enfarte a qualquer momento. E o pior é que me recuso a procurar um médico porque não sinto mais vontade de continuar essa vida vazia e triste que levo.
A solidão que sinto é maior do que essa cidade. O meu olhar é triste e só guarda lagrimas e saudade.
Ainda estou sóbrio mais não controlo minha ansiedade. Talvez seja hora de navegar outros mares. Eu vou me isolar do mundo mais uma vez. Eu vou me trancar no quarto outra vez. Eu vou refletir sobre minha vida.
O céu se quebrou sobre nossas cabeças. O que pensar de tudo agora?
Encontro-me num beco escuro e sem saida.
Talvez nem o tempo possa curar essa ferida. Talvez seja o fim de uma miragem. Talvez meus dias estejam chegando ao fim... tem sido um fim interminável...

(C. Brasil/I. Martins)

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

DIA CINZENTO

Fecho-me no preto esmaltado do meu lado mais depressivo, nesse dia cinzento. Sinto-me inverno cerrado, tempestade de neve em noite de nevoeiro e toda a luz que vejo não é mais do que a das minhas dúvidas a iluminarem-me a mente de questões às quais tenho receio de responder.
Deprimo, porque nada é como devia ser, porque nunca se consegue fazer entender aquilo que se pensa, porque nunca se entende a mensagem que outrém quer fazer passar. Sinto meus sentidos adormecidos, e enquanto procuro desesperadamente por eles, o meu desespero junta-se à exaltação que surgira nesta noite chuvosa e sombria.
Procuro ainda quem sou, mas sei por onde procurar. Sei que não procuro em vão, porque sei que a cada dia, terei uma nova resposta que transcende a anterior mas que se coloca numa amplitude ainda maior para o dia que se segue, e neste princípio, percebo que a minha busca só terá fim no dia da minha morte. E hoje aprendi muitas coisas a este respeito: é bom que existam sempre dúvidas! Elas fazem-nos sentir que ainda há algo a descobrir, e tudo deve constantemente ser posto em causa, ajuda a exercitar a mente e o espírito, ajuda-nos a obter mais dúvidas, que por sua vez nos ajuda a caminhar!

No dia em que olhar para dentro e não tiver mais dúvidas, nesse dia, morri! E é assim que me despeço hoje, de preto esmaltado em dia de cinzento abstracto.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

ABISMO


Desde aquele momento,
Não consegui seguir...
Tentei...
Mas o máximo que consegui foi andar em círculos

Meu caminho foi vedado
E agora simplesmente o tempo tem destruído
Tudo que eu iria construir.
Meu pesadelo é real
E a realidade é absurda

Continuo caindo...

No abismo da mente.


(I. Martins)

domingo, 30 de novembro de 2008

RUBI


Saio à rua de manhã e me deixo levar
Assisto à profusão de cores e de sons
Quem é essa multidão? Por que correr assim?
Ninguém aqui jamais será tão só como eu

Eu estou agora em outro tempo, outro lugar... longe de mim
...
A vida era longa... Às vezes distante
Era promessa, que não sei se cumpri
Meus olhos ainda eram diamante
Já chorei à beça... De hoje em diante, viraram rubi.
...

(Mauro Motoki / Habacuque Lima)

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

A DOR


De todas as coisas e situações pelas quais passei, a dor é a única coisa real que sinto hoje... Não acredito mais em nada neste mundo. As pessoas não são reais... O mundo não é bom. Tudo é falso...

Já tive vários caminhos pela frente, tendo oportunidade de escolha... Hoje todas as portas se fecharam e as paredes estão cada vez mais me sufocando... Não sei até quando continuarei nessa prisão sem grades...

Cansei de olhar para trás e ver o meu futuro ir embora... Cansei de querer planejar algo e ver meu passado destruir meus planos...

Aos olhos do mundo, sou um ninguém... que deixou de viver há alguns anos, mas que ninguém percebeu. Aos olhos do amor, sou um ser que o sentiu profundamente, acreditou que poderia ser feliz e fui derrubado, sem explicação...

Se a coisa mais bonita de nossas vidas me fez chorar, porque continuar aqui pra ver o que sobrou??

(I. Martins)

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O OBJETO


Pude então estar aqui
Sem recordações do que vivi
Só no pensamento, timidamente eu ouvia sua música
E sentia os estalos do seu caminhar
Eu queria ter minha foto estampada em sua blusa
Minha carne em sua unha
Dentro e fora de você... molhando a minha língua
Abrindo a cortina... Iniciando a rotina
Ativando os calafrios... Sinto a pele esquentar
O espelho e as verdades
O objeto das vontades

Deita-te comigo, sem tu mesmo estar aqui
Dance nos meus sonhos e me implore a pedir
Para que eu abra os olhos.

(R. Campello)

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

ENFERMIDADE


Noites de insônia... Dias vazios...
Mente cansada... Corpo febril.

Pensamentos que corróem a alma
Um doce amargo no paladar
Ir sem perspectiva a lugar algum
Mas com toda pressa de chegar.


(I. Martins)

domingo, 16 de novembro de 2008

ANJO DO BECO


Um corpo frio e cansado
Vagando devagar
Uma alma em conflito
Pairando sem parar
Um ser que não foi
E nunca será
Um sentimento enterrado vivo
Mas que não quer se exumar.

Um anjo cadente de alturas infinitas
Atravessando lentamente a escuridão de um beco
Na suavidade do caos,
Na beleza das ruínas,
Nas esquinas do deserto...
Para proteger alguém que já se foi,
Alguém que viveu sempre ferido,
Enfraquecido e esquecido
Mas que ja partiu... partido.

Anjo do beco vagando devagar
Asas quebradas, sua luz a se apagar
Na voraz alvorada que o aprisiona
Carregando uma harpa que não mais funciona
Sua forma aos poucos se concretizando
Sentimentos humanos lhe dominando
Castigado por não cumprir o seu dever
Tomará o lugar de quem deveria proteger.

(I. Martins)

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

PENSAMENTO #2

Pensamento vem de fora
e pensa que vem de dentro,
pensamento que expectora
o que no meu peito penso.

Pensamento a mil por hora,
tormento a todo momento.
Por que é que eu penso agora
sem o meu consentimento?

Se tudo que comemora
tem o seu impedimento,
se tudo aquilo que chora
cresce com seu fermento;

Pensamento, dê o fora,
saia do meu pensamento.
Pensamento, vá embora,
desapareça no vento.
E não jogarei sementes
em cima do seu cimento.

(Arnaldo Antunes)

terça-feira, 11 de novembro de 2008

A BUSCA DO "EU" (PARTE 4)


Sou a montanha que desaba ao ser movida pela fé desesperadora.

Sou o último pingo da tempestade que lava alguma alma em conflito

Sou o cabo da ferramenta que parte corações que amam sem serem amados

Sou semeador de flores mortas dadas a quem causa toda essa dor.


(I. Martins)

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

CICLO DA VIDA

A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina.
Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente.
Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade. Você vai para o colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, torna-se um bebezinho de colo, volta ao útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando.
E termina tudo com um ótimo orgasmo!
Não seria perfeito?
.
(Charles Chaplin)

domingo, 9 de novembro de 2008

ACRÓSTICO 2




Infelizmente, a realidade é um pesadelo
Carrego no peito uma bomba que explode em silêncio
As lembranças são uma prisão sem grades
Ruínas de uma vida (q já não me pertence) são tudo que me restam
O que eu ainda estou fazendo aqui??

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

O CAMINHO DA VIDA

O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos.
A cobiça envenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio...
E tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e morticínios.
Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela.
A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria.
Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos;
Nossa inteligência, empedernidos e cruéis.
Pensamos em demasia e sentimos bem pouco.
Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade.
Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura.
Sem essas virtudes, a vida será de violência
E tudo será perdido.
.
(C. Chaplin)

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

MUNDO MODERNO


Mundo moderno, marco malévolo, mesclando mentiras, modificando maneiras, mascarando maracutaias, majestoso manicômio. Meu monólogo mostra mentiras, mazelas, misérias, massacres, miscigenação, morticínio - maior maldade mundial.
Madrugada, matuto magro, macrocéfalo, mastiga média morna. Monta matungo malhado munindo machado, martelo, mochila murcha, margeia mata maior. Manhãzinha, move moinho, moendo macaxeira, mandioca. Meio-dia mata marreco, manjar melhorzinho. Meia-noite, mima mulherzinha mimosa, Maria morena, momento maravilha, motivação mútua, mas monocórdia mesmice. Muitos migram, macilentos, maltrapilhos. Morarão modestamente, malocas metropolitanas, mocambos miseráveis. Menos moral, menos mantimentos, mais menosprezo. Metade morre.
Mundo maligno, misturando mendigos maltratados, menores metralhados, militares mandões, meretrizes, maratonas, mocinhas, meras meninas, mariposas mortificando-se moralmente, modestas moças maculadas, mercenárias mulheres marcadas. Mundo medíocre. Milionários montam mansões magníficas: melhor mármore, mobília mirabolante, máxima megalomania, mordomo, Mercedes, motorista, mãos… Magnatas manobrando milhões, mas maioria morre minguando. Moradia meia-água, menos, marquise.
Mundo maluco, máquina mortífera. Mundo moderno, melhore. Melhore mais, melhore muito, melhore mesmo. Merecemos. Maldito mundo moderno, mundinho merda.


(Chico Anysio)

RUÍNAS


"...Uma perfeita harmonia
Em uma provável ruína..."
Este pode ter sido um resumo do que vivi.
Eu escrevia quase que profeticamente a tragédia da minha vida
E só me dei conta disso, quando as coisas foram acontecendo.
Agora estou preso num abismo, perdido entre pensamentos e lembranças
Sentimentos que corroem a alma...
Isso é tudo que restou.
.
(I. Martins)

domingo, 2 de novembro de 2008

IMPASSÍVEL DIANTE DO DRAGÃO


Há muito tempo nós nos conhecemos...
Eu vinha, você ia... foi um encontro comum, casual,
Milhares se encontram assim.
Depois, eu comecei a sentir algo,
Talvez uma saudade sem razão, não sei...
Não era tristeza, não era alegria
Era uma indecisão de amar você.
E eu passava momentos, olhando para a frente,
Desligado, sem ver nada.
Engraçado! Olhava e não via.
Estava absorto, parado, consumido por mim:
Uma verdadeira estátua em introspecção.
Estava encucado com ausência que era presença.
De repente, a interrogação indecisa foi evaporando.
E eu vi dentro de mim que era amor.
Você estava enquadrada no que eu queria,
Desde o sorriso até as lágrimas
Você era a mão certa na escalada incerta,
Você era o horizonte nítido...
Mas eu cometi um erro: Não perguntei se eu também era tudo isso pra você
E a verdade é que não era.
Eu não estava enquadrado no que você queria,
Não era sorriso, não era horizonte, não era nada...
Era um andante maravilhosamente invisível para você.
De repente, a exclamação veio em “closed”
E eu fiquei afirmando seus defeitos,
Fiquei procurando tudo que você fazia de errado
E você não fazia...
Fiquei torcendo pra você me decepcionar.
Afundei-me como arqueólogo nas ruínas da sua imagem adorada,
E você permaneceu intacta
Eu quis desmanchar a ilusão...
Mas você se manteve a mesma,
Impassível diante do dragão que me tornei
Então me decepcionei comigo
Porque não compensei o que queria com o que sentia.
E numa noite, não muito longe,
Resolvi selar a carta da despedida,
Fechei os olhos,
As lágrimas caíram uma a uma,
E eu adormeci, sonhando o sonho da aceitação.
.
(Neimar de Barros)

sábado, 1 de novembro de 2008

ALEGRIA INSTATÂNEA

Alegria que passa... O ar está pesado.
Tão pesado que parece chumbo caindo sobre a cabeça.
O mundo virou e minha alegria instantânea,
Transmutou com o ar cínico que me cerca.
Noite incerta e traiçoeira.
Os amigos nem existem mais.
Suas cabeças, já não sustentam mais.
O mundo transformou num objeto obscuro.
Assim como os olhos que nem tenta me mirar.
Olha! Vê! Já não sou mais eu, ou será que não é você?
Seguindo na estrada rotineira, percebo:
Tudo volta ao “normal”, se eu tomo uma garrafa de vinho.
Com meus "amigos temporários" numa mesa de bar.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

SEM SURPRESAS

Um coração tão cheio quanto um aterro
Um trabalho que te mata lentamente,
Feridas que não vão cicatrizar
Você parece tão cansado e infeliz,
Humilhado pelo governo...
Eles não... eles não falam por nós.


Eu vou levar uma vida tranqüila,
Um aperto de mão de monóxido de carbono
Sem alarmes e sem surpresa,
sem alarmes e sem surpresas,

Silêncio... silêncio...


Este é meu ajuste final
Minha última dor ventral
Sem alarmes e sem surpresa,
Sem alarmes e sem surpresas,

Algo como uma casa tão bonita
E um jardim tão bonito.
Sem alarmes e semsurpresa,
Sem alarmes e sem surpresas,
Sem alarmes e sem surpresas, por favor.


("No surprises" by Radiohead )

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

APATIA


Gostaria de ter algo legal para postar agora aqui... Realmente estou sem criatividade e sem inspiração.
Hoje foi um dia vazio, assim como os anteriores... E estou escrevendo cada vez menos...
Estou ficando apático a algumas coisas e, sinceramente, não seria uma coisa ruim.
Muitas situações atuais e tudo que já se passou me fazem crer que o mundo está cada vez mais frio e todo o meu sentimentalismo não convém mais.
Não sei quando voltarei a postar algo...

Ninguém lê mesmo...

(I. Martins)

terça-feira, 28 de outubro de 2008

NINGUÉM

Todos se vão... todos se afastam... todos se ausentam...
Não há ninguém aqui... Não há ninguém por aí...
Não há ninguém com quem se possa contar...
A solidão hoje é a minha companheira...



"Por Deus, nunca me vi tão só, é a própria fé o que destrói. Esses são dias desiguais..." (R. Russo)

HOMEM-NADA
.
SER SOZINHO. SER DISTINTO.
SER SÓ. SER FRUSTRADO.
SER NINGUÉM. SER VÃO.
SER ÚNICO, SER BALDADO.

SER INVISÍVEL. SER SOMBRIO.
SER OCULTO. SER EVITÁVEL.
SER NULO. SER VAZIO.
SER TORVO. SER DISPENSÁVEL.

SER ISOLADO. SER FÚTIL.
SER EXTINTO. SER SUBTRAÍDO.
SER APÁTICO. SER INÚTIL.
SER OMISSO. SER ESQUECIDO.

(I. Martins)

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

POESIA VISUAL

A POESIA VISUAL é o produto literário que se utiliza de recursos (tipo)gráficos e/ou puramente visuais,de tendência caligramática, ideogramática, geométrica ou abstrata, cujo centramento gráfico-visual não exclui outras possibilidades literárias (verbais, sonoras etc.). Vendo algumas obras de autores como Augusto de Campos, Arnaldo Antunes, Millôr Fernandes, entre outros, comecei a desenvolver essa técinica. E criei algumas coisas desse estilo:
("Um dia a mais é um dia a menos" - Ícaro Martins)


("Tempo de trevas" - Ícaro Martins)


("Monotonia" - Ícaro Martins)

terça-feira, 21 de outubro de 2008

UMA HISTÓRIA DE OMISSÃO

LEVANTA, ZÉ

"Mulher, a partir de hoje não vou atender mais o telefone.
Diz que nao estou, sei lá, qualquer coisa!
- E se for alguma coisa importante?
- Não quero saber, tenho a minha vida, os meus negócios e quero sossego aqui em casa, os outros que se lixem, que deixem recado!
- Pai, o telefone está a tocar!
- Se for pra mim, filho, MINTA, diz que eu não estou!
- Mentir???
- Isso mesmo, ou tu nunca fizeste isso?
Eram três horas da madrugada quando o telefone iniciou o seu grito da noite.
Tocou, tocou e tocou e ninguém atendeu.
A esposa dizia: - Levanta Zé!
- Eu não! Não vou descer as escadas para atender o telefone. Quem quiser falar comigo que fale de dia... ou melhor, deixe recado de dia.
- Levanta, Zé!
- Não vou, não vou, e não vou...!
Três e quinze. O telefone parou de tocar. Dormiram o sono dos justos.
No dia seguinte, foi para a empresa. Caprichos do "destino": o sinal vermelho apareceu. Parou o carro. Ao seu lado, na calçada, uma banca de jornal. Um jornal escancarado com uma manchete violenta: "SUICÍDIO NO BAIRRO MILIONÁRIO".
A fotografia abaixo era... era a do seu amigo, sim, do melhor amigo que ele tinha.
Quando o sinal abriu, ele deu a volta ao quarteirão e voltou para casa.
Agarrou a esposa e foram juntos para casa do morto. Entrou a tremer.
O peso da dor pairava no ar e, ao abraçar a viúva, perguntou o porque?
A resposta veio: "A situação dele estava mal... Não falava com ninguém sobre isso... As firmas à beira da falência ...Ele a viver de aparência... Precisava mostrar-se forte como sempre... medo de perder a influência...
Às 3 da manhã, levantou-se desesperado. Não conseguiu dormir.
Agarrou no telefone e disse que ia ligar para o maior amigo que tinha.
Não queria mais dinheiro, queria apenas um apoio, um ouvido para escutá-lo, uma palavra...


O amigo não estava... não estava...


(Levanta, Zé!)
(Levanta, Zé!)
(Levanta, Zé!)


(NEIMAR DE BARROS)

sábado, 18 de outubro de 2008

TÉDIO

Não há nada mais insuportável para o homem do que estar completamente ocioso, sem paixões, ocupações, diversões ou leitura. Ele sente que não é nada; é só, inadequado, dependente, impotente e vazio. E na mesma hora brota do fundo de seu coração o tédio, o desânimo, a tristeza, a raiva, o desespero, a aflição...
O tédio simplesmente mostra que você está se tornando ciente da futilidade da vida, da constante roda repetitiva. Você já fez todas aquelas coisas antes – nada acontece. Você esteve dentro de todas aquelas viagens antes – não deu em nada. O tédio é a primeira indicação de que uma grande compreensão está surgindo em você, sobre a futilidade, a insignificância, da vida e de seus caminhos.
O tédio é duplamente difícil de ser diagnosticado e curado porque é uma doença privada. Temos vergonha dele. Como a culpa ou a vergonha, nós o escondemos atrás da cortina do silêncio e da negação... Para moldar um quadro real de quanto a nossa vida está moldada pelo tédio, teremos de examinar seus efeitos secundários - todas as maneiras de gastarmos nossa energia tentando escapar desse monstro que juramos não estar atrás de nós.
Debaixo da superfície próspera das nossas vidas, ainda experimentamos frustração e confusão, ansiedade e desespero. Dentro das nossas sociedades, mesmo os mais afortunados têm pouca esperança de liberação completa da frustração e insatisfação... Talvez as nossas tentativas de encontrar satisfação estejam, na realidade, conduzindo-nos a frustrações.
O número de pessoas com um funcionamento limite esteja aumentando, pois elas são o reflexo de uma sociedade pouco preocupada com o bem estar dos cidadãos e mais interessada na globalização e nos efeitos econômicos. Essas pessoas estão em busca de si mesmas, tentando desesperadamente lidar com a dor e o vazio de suas existências. Tentando simplesmente existir!

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

LABIRINTO DA MENTE

Mais um dia... menos um dia... Nunca morri antes como hoje. Sinto a vida cada vez mais escassa. Não sei até quando vou manter minha sanidade e as minhas forças pra continuar...
Hoje, mais uma vez visitei a sala escura sem janela no centro do labirinto da minha mente. Meus pensamentos estão me corroendo lentamente. Sinceramente, não sei se irei continuar por muito tempo.

(I. Martins)

HOTEL FRATERNITÉ


Aquele que não tem com o que comprar uma ilha
Aquele que espera a rainha de sabá na frente de um cinema
Aquele que rasga de raiva e desespero sua última camisa
Aquele que esconde um dobrão de ouro no sapato furado
Aquele que olha nos olhos duros do chantagista
Aquele que range os dentes nos carrocéis
Aquele que derrama vinho rubro na cama sórdida
Aquele que toca fogo em cartas e fotografias
Aquele que vive sentado nas docas debaixo das gaivotas
Aquele que alimenta os esquilos
Aquele que não tem um centavo
Aquele que observa
Aquele que dá socos na parede
Aquele que grita
Aquele que bebe
Aquele que não faz nada

Meu inimigo
Debruçado sobre o balcão
Na cama em cima do armário
No chão por toda parte
Agachado
Olhos fixos em mim
Meu irmão.

(Arnaldo Antunes / Aldo Fortes / Hans Magnus Enzensberger)

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

ALMA REFLETIDA


É difícil definir se ainda há vida em mim
Há anos não tenho mais o equlíbrio que eu tinha
Tudo desandou e o amanhã está cada dia mais incerto
Não sei quantos anos envelheci hoje...
Nem sei se amanhã estarei aqui para ter a audácia de perceber,
Diante do espelho, o que a dor me causou.
Mas o espelho não reflete minha alma
E se o fizesse, eu cairia em cacos, perante infinita morbidez.
Não sei até quando irei dormir sem querer mais acordar
Não sei até quando irei acordar chorando
Não sei até quando estarei morrendo diariamente
Questionando inutilmente por que a vida está me custando tão caro.

(I. Martins)

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

REALIDADES ALTERNATIVAS

“Na nossa vida, acontecem fatos que nos fazem sentir injustiçados de alguma forma. Começamos a nos revoltar e perder o rumo... Tudo começa a desandar e, quando você menos espera, tudo está um caos na sua vida...Tudo foi conseqüência de um único acontecimento... você começa a viver de uma forma que jamais viveria se aquilo não tivesse acontecido... isso se torna a sua "realidade alternativa", na qual você está preso e nunca poderá sair... porque nada será como antes...A vida, então, torna-se um suicídio diário... Sua própria angústia de não ter aquilo q deseja estará sempre te corroendo dia após dia...”

(I. Martins)
__________________________________
VERSÕES DE MIM (Luís Fernando Veríssimo)

Vivemos cercados pelas nossas alternativas, pelo que podíamos ter sido. Ah, se apenas tivéssemos acertado aquele número (unzinho e eu ganhava a Sena acumulada), topado aquele emprego, completado aquele curso, chegado antes, chegado depois, dito sim, dito não, ido para Londrina, casado com a Doralice, feito aquele teste...

Agora mesmo, neste bar imaginário em que estou bebendo para esquecer o que não fiz (aliás, o nome do bar "Imaginário"), sentou-se um cara do meu lado direito e se apresentou:
- Eu sou você, se tivesse feito aquele teste no Botafogo.
E ele tem mesmo a minha idade e a minha cara.
E o mesmo desconsolo.
- Por que o desconsolo? Sua vida não foi melhor do que a minha?
- Durante um certo tempo, foi. Cheguei a titular. Cheguei à seleção. Fiz um grande contrato. Levava uma grande vida. Até que um dia...
- Você hesitou entre sair e não sair do gol. Não saiu, levou o único gol do jogo, caiu em desgraça, largou o futebol e foi ser um medíocre propagandista.
- Como é que você sabe?
- Eu sou você, se tivesse saído do gol.
Levei um chute na cabeça. Não pude ser mais nada. Nem propagandista. Ganho uma miséria do INSS e só faço isso: bebo e me queixo da vida.
Se não tivesse ido nos pés do atacante...
- Eu sou você, se tivesse entrado para o serviço público.

Olhei em volta. Eu lotava o bar.
Todas as mesas estavam ocupadas por minhas alternativas e nenhuma parecia estar contente.
Comentei com o barman que, no fim, quem estava com o melhor aspecto ali era eu mesmo.
O barman fez que sim com a cabeça, tristemente.
Só então notei que ele também tinha a minha cara, só que com mais rugas.
- Quem é você? - Perguntei.
- Eu sou você, se tivesse casado com a Doralice.
- E...?
Ele não respondeu. Só fez um sinal, com o dedão virado para baixo.
Creio que a vida não é feita das decisões que você não toma, ou das atitudes que você não teve, e sim daquilo que foi feito!

Se bom ou não, penso, é melhor viver do futuro que do passado.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

MORTE (Hora do Delírio)


Pensamento gentil de paz eterna
Amiga morte, vem. Tu és o termo
De dois fantasmas que a existência formam,
— Dessa alma vã e desse corpo enfermo.

Pensamento gentil de paz eterna,
Amiga morte, vem. Tu és o nada,
Tu és a ausência das moções da vida,
do prazer que nos custa à dor passada.

Pensamento gentil de paz eterna
Amiga morte, vem. Tu és apenas
A visão mais real das que nos cercam,
Que nos extingues as visões terrenas.

Nunca temi tua destra,
Não vou o vulgo profano;
Nunca pensei que teu braço
Brande um punhal sobre-humano.

Nunca te julguei em meus sonhos
Um esqueleto mirrado;
Nunca te dei, pra voares,
Terrível ginete alado.

Nunca te dei uma foice
Dura, fina e recurvada;
Nunca te chamei inimiga,
Ímpia, cruel, ou culpada.

Amei-te sempre: — pertencer-te quero
Para sempre também, amiga morte.
Quero o chão, quero a terra, - esse elemento
Que não se sente dos vaivens da sorte.

Para tua matança de um segundo
Não falta alguém? — Preencha-a comigo:
Leva-me à região da paz horrenda,
Leva-me ao nada, leva-me contigo.

Milhares de vermes lá me esperam
Para nascer de meu fermento ainda,
Para nutrir-se de meu suco impuro,
Talvez me espere uma plantinha linda.

Vermes que sobre podridões refervem,
Plantinha que a raiz meus ossos fera,
Em vós minha alma e sentimento e corpo
Irá em partes agregar-se à terra.

E depois nada mais. Já não há tempo,
nem vida, nem sentir, nem dor, nem gosto.
Agora o nada — esse real tão belo
Só nas terrenas vísceras deposto.

Facho que a morte ao limiar apaga,
Foi essa alma fatal que nos aterra.
Consciência, razão, que nos afligem,
Deram em nada ao baquear em terra.

Única idéia mais real dos homens,
Morte feliz — eu quero-te comigo,
Leva-me à região da paz horrenda,
Leva-me ao nada, leva-me contigo.

Também desta vida à campa
Não transporto uma saudade.
Cerro meus olhos contente
Sem um ai de ansiedade.

E como um autômato infante
Que ainda não sabe mentir,
Ao pé da morte querida
Hei de insensato sorrir.

Por minha face sinistra
Meu pranto não correrá.
Em meus olhos moribundos
Terrores ninguém lerá.

Não achei na terra amores
Que merecessem os meus.
Não tenho um ente no mundo
A quem diga o meu - adeus.

Não posso da vida à campa
Transportar uma saudade.
Cerro meus olhos contente
Sem um ai de ansiedade.

Por isso, ó morte, eu amo-te e não temo:
Por isso, ó morte, eu quero-te comigo.
Leva-me à região da paz horrenda,
Leva-me ao nada, leva-me contigo.


(Junqueira Freire)

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

17 ARNALDOS


Arnaldo Antunes é , além de músico e compositor, um grande poeta. Também atuou como ensaísta na Folha de S. Paulo, sendo assim um crítico bem informado e competente, pois nestes ensaios é que podemos detectar o substrato teórico que transparece no seu trabalho estético. E pela grande admiração que tenho pelo seu trabalho, estou postando um texto, dentre centenas de obras-primas que ele possui.


"Viver não tem volta
O dia de amanhã chegou
A culpa é de todo mundo
O rio não sabe onde vai
Que versão da verdade
Se o chão rachar o teto cai
Vivo de morrer
Deixar de ser pra deixar ser
Crescer dói
Perder liberta
De comerciante sem troco
Todo mundo tem um pouco
Não faço direito
Faço do meu jeito
O olho não se enxerga
O olho reflete o que vê
O avesso do espelho é você
Fecha os olhos e manda ver"

(Arnaldo Antunes)

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

TORMENTA


Há momentos, do nada, atormentam-me a lembrança de um tempo em que tudo parecia estar bem e num piscar de olhos se desfizeram todos os meus sonhos, planos e possibilidades de ter uma vida aparentemente feliz.

Poucos segundos desses pensamentos e lembranças destróem seu dia, sua semana ou até o resto da sua vida que já está em ruínas.

O tempo passa e isso não muda...

Talvez, amanhã será igual.

(I. Martins)

domingo, 5 de outubro de 2008

FLORES NEGRAS


Eu quero ouvir o silêncio
Eu quero ver a escuridão
Quero cessar meus pensamentos
Quero tocar no abstrato

Quero chegar ao fim do abismo
Quero sair dessa prisão sem grades
Quero cuspir toda essa dor
Quero me desamarrar dessa angústia

Eu quero me encontrar nas esquinas do deserto
Cercado pelas sombras de anjos de asas quebradas
Eu quero me evaporar,
Assim como as minhas lágrimas
E formar uma nuvem negra
Que choverá sobre os vales
Fazendo surgir flores negras e mortas
Que se alimentarão da dor que o mundo transmite.

(I. Martins)

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

ACRÓSTICO 1


Não consigo deixar em seu devido lugar
Aquilo que ficou para trás...
Os dias de ontem destruíram meu amanhã.

Sozinho vago por um mundo frio e sombrio...
Encontra-se aberta a porta para o desespero,
Iniciando assim um final bem previsível.

Mesmo que, por um momento, eu me distráia
A minha alegria é instantânea
Infinitas tornam-se as horas de angústia
Sugerindo um passeio pela escuridão.

Quando irei superar tudo isso?
Ultimamente a resposta é a mais temível.
Enfrento tempestades mentais dia após dia
Minha vida, há muito tempo, acabou-se.

Estando à beira de um abismo,
Um passo à frente é não desejar ir adiante.

Sinto que a cada hora que passa arrastando-se,
Ocasiona, em mim, perdas irrecuperáveis
Uma vez... lembro-me, eu tive motivos para sorrir.

(Icaro Martins)

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

AGORA

Agora que a agora é nunca
Agora posso recuar
Agora sinto minha tumba
Agora o peito a retumbar
Agora a última resposta
Agora quartos de hospitais
Agora abrem uma porta
Agora não se chora mais
Agora a chuva evapora
Agora ainda não choveu
Agora tenho mais memória
Agora tenho o que foi meu
Agora passa a paisagem
Agora não me desperdi
Agora compro uma passagem
Agora ainda estou daqui
Agora sinto muita sede
Agora já é madrugada
Agora diante da parede
Agora falta uma palavra
Agora o vento no cabelo
Agora toda minha roupa
Agora volta pro novelo
Agora a língua em minha boca
Agora meu avô já vive
Agora meu filho nasceu
Agora o filho que não tive
Agora a criança sou eu
Agora sinto um gosto doce
Agora vejo a cor azul
Agora a mão de quem me trouxe
Agora é só meu corpo nu
Agora eu nasço lá de fora
Agora minha mãe é o ar
Agora eu vivo na barriga
Agora eu brigo pra voltar
Agora...

(Composição: Titãs) Uma das mais brilhantes letras da banda