domingo, 30 de novembro de 2008

RUBI


Saio à rua de manhã e me deixo levar
Assisto à profusão de cores e de sons
Quem é essa multidão? Por que correr assim?
Ninguém aqui jamais será tão só como eu

Eu estou agora em outro tempo, outro lugar... longe de mim
...
A vida era longa... Às vezes distante
Era promessa, que não sei se cumpri
Meus olhos ainda eram diamante
Já chorei à beça... De hoje em diante, viraram rubi.
...

(Mauro Motoki / Habacuque Lima)

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

A DOR


De todas as coisas e situações pelas quais passei, a dor é a única coisa real que sinto hoje... Não acredito mais em nada neste mundo. As pessoas não são reais... O mundo não é bom. Tudo é falso...

Já tive vários caminhos pela frente, tendo oportunidade de escolha... Hoje todas as portas se fecharam e as paredes estão cada vez mais me sufocando... Não sei até quando continuarei nessa prisão sem grades...

Cansei de olhar para trás e ver o meu futuro ir embora... Cansei de querer planejar algo e ver meu passado destruir meus planos...

Aos olhos do mundo, sou um ninguém... que deixou de viver há alguns anos, mas que ninguém percebeu. Aos olhos do amor, sou um ser que o sentiu profundamente, acreditou que poderia ser feliz e fui derrubado, sem explicação...

Se a coisa mais bonita de nossas vidas me fez chorar, porque continuar aqui pra ver o que sobrou??

(I. Martins)

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O OBJETO


Pude então estar aqui
Sem recordações do que vivi
Só no pensamento, timidamente eu ouvia sua música
E sentia os estalos do seu caminhar
Eu queria ter minha foto estampada em sua blusa
Minha carne em sua unha
Dentro e fora de você... molhando a minha língua
Abrindo a cortina... Iniciando a rotina
Ativando os calafrios... Sinto a pele esquentar
O espelho e as verdades
O objeto das vontades

Deita-te comigo, sem tu mesmo estar aqui
Dance nos meus sonhos e me implore a pedir
Para que eu abra os olhos.

(R. Campello)

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

ENFERMIDADE


Noites de insônia... Dias vazios...
Mente cansada... Corpo febril.

Pensamentos que corróem a alma
Um doce amargo no paladar
Ir sem perspectiva a lugar algum
Mas com toda pressa de chegar.


(I. Martins)

domingo, 16 de novembro de 2008

ANJO DO BECO


Um corpo frio e cansado
Vagando devagar
Uma alma em conflito
Pairando sem parar
Um ser que não foi
E nunca será
Um sentimento enterrado vivo
Mas que não quer se exumar.

Um anjo cadente de alturas infinitas
Atravessando lentamente a escuridão de um beco
Na suavidade do caos,
Na beleza das ruínas,
Nas esquinas do deserto...
Para proteger alguém que já se foi,
Alguém que viveu sempre ferido,
Enfraquecido e esquecido
Mas que ja partiu... partido.

Anjo do beco vagando devagar
Asas quebradas, sua luz a se apagar
Na voraz alvorada que o aprisiona
Carregando uma harpa que não mais funciona
Sua forma aos poucos se concretizando
Sentimentos humanos lhe dominando
Castigado por não cumprir o seu dever
Tomará o lugar de quem deveria proteger.

(I. Martins)

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

PENSAMENTO #2

Pensamento vem de fora
e pensa que vem de dentro,
pensamento que expectora
o que no meu peito penso.

Pensamento a mil por hora,
tormento a todo momento.
Por que é que eu penso agora
sem o meu consentimento?

Se tudo que comemora
tem o seu impedimento,
se tudo aquilo que chora
cresce com seu fermento;

Pensamento, dê o fora,
saia do meu pensamento.
Pensamento, vá embora,
desapareça no vento.
E não jogarei sementes
em cima do seu cimento.

(Arnaldo Antunes)

terça-feira, 11 de novembro de 2008

A BUSCA DO "EU" (PARTE 4)


Sou a montanha que desaba ao ser movida pela fé desesperadora.

Sou o último pingo da tempestade que lava alguma alma em conflito

Sou o cabo da ferramenta que parte corações que amam sem serem amados

Sou semeador de flores mortas dadas a quem causa toda essa dor.


(I. Martins)

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

CICLO DA VIDA

A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina.
Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente.
Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade. Você vai para o colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, torna-se um bebezinho de colo, volta ao útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando.
E termina tudo com um ótimo orgasmo!
Não seria perfeito?
.
(Charles Chaplin)

domingo, 9 de novembro de 2008

ACRÓSTICO 2




Infelizmente, a realidade é um pesadelo
Carrego no peito uma bomba que explode em silêncio
As lembranças são uma prisão sem grades
Ruínas de uma vida (q já não me pertence) são tudo que me restam
O que eu ainda estou fazendo aqui??

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

O CAMINHO DA VIDA

O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos.
A cobiça envenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio...
E tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e morticínios.
Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela.
A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria.
Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos;
Nossa inteligência, empedernidos e cruéis.
Pensamos em demasia e sentimos bem pouco.
Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade.
Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura.
Sem essas virtudes, a vida será de violência
E tudo será perdido.
.
(C. Chaplin)

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

MUNDO MODERNO


Mundo moderno, marco malévolo, mesclando mentiras, modificando maneiras, mascarando maracutaias, majestoso manicômio. Meu monólogo mostra mentiras, mazelas, misérias, massacres, miscigenação, morticínio - maior maldade mundial.
Madrugada, matuto magro, macrocéfalo, mastiga média morna. Monta matungo malhado munindo machado, martelo, mochila murcha, margeia mata maior. Manhãzinha, move moinho, moendo macaxeira, mandioca. Meio-dia mata marreco, manjar melhorzinho. Meia-noite, mima mulherzinha mimosa, Maria morena, momento maravilha, motivação mútua, mas monocórdia mesmice. Muitos migram, macilentos, maltrapilhos. Morarão modestamente, malocas metropolitanas, mocambos miseráveis. Menos moral, menos mantimentos, mais menosprezo. Metade morre.
Mundo maligno, misturando mendigos maltratados, menores metralhados, militares mandões, meretrizes, maratonas, mocinhas, meras meninas, mariposas mortificando-se moralmente, modestas moças maculadas, mercenárias mulheres marcadas. Mundo medíocre. Milionários montam mansões magníficas: melhor mármore, mobília mirabolante, máxima megalomania, mordomo, Mercedes, motorista, mãos… Magnatas manobrando milhões, mas maioria morre minguando. Moradia meia-água, menos, marquise.
Mundo maluco, máquina mortífera. Mundo moderno, melhore. Melhore mais, melhore muito, melhore mesmo. Merecemos. Maldito mundo moderno, mundinho merda.


(Chico Anysio)

RUÍNAS


"...Uma perfeita harmonia
Em uma provável ruína..."
Este pode ter sido um resumo do que vivi.
Eu escrevia quase que profeticamente a tragédia da minha vida
E só me dei conta disso, quando as coisas foram acontecendo.
Agora estou preso num abismo, perdido entre pensamentos e lembranças
Sentimentos que corroem a alma...
Isso é tudo que restou.
.
(I. Martins)

domingo, 2 de novembro de 2008

IMPASSÍVEL DIANTE DO DRAGÃO


Há muito tempo nós nos conhecemos...
Eu vinha, você ia... foi um encontro comum, casual,
Milhares se encontram assim.
Depois, eu comecei a sentir algo,
Talvez uma saudade sem razão, não sei...
Não era tristeza, não era alegria
Era uma indecisão de amar você.
E eu passava momentos, olhando para a frente,
Desligado, sem ver nada.
Engraçado! Olhava e não via.
Estava absorto, parado, consumido por mim:
Uma verdadeira estátua em introspecção.
Estava encucado com ausência que era presença.
De repente, a interrogação indecisa foi evaporando.
E eu vi dentro de mim que era amor.
Você estava enquadrada no que eu queria,
Desde o sorriso até as lágrimas
Você era a mão certa na escalada incerta,
Você era o horizonte nítido...
Mas eu cometi um erro: Não perguntei se eu também era tudo isso pra você
E a verdade é que não era.
Eu não estava enquadrado no que você queria,
Não era sorriso, não era horizonte, não era nada...
Era um andante maravilhosamente invisível para você.
De repente, a exclamação veio em “closed”
E eu fiquei afirmando seus defeitos,
Fiquei procurando tudo que você fazia de errado
E você não fazia...
Fiquei torcendo pra você me decepcionar.
Afundei-me como arqueólogo nas ruínas da sua imagem adorada,
E você permaneceu intacta
Eu quis desmanchar a ilusão...
Mas você se manteve a mesma,
Impassível diante do dragão que me tornei
Então me decepcionei comigo
Porque não compensei o que queria com o que sentia.
E numa noite, não muito longe,
Resolvi selar a carta da despedida,
Fechei os olhos,
As lágrimas caíram uma a uma,
E eu adormeci, sonhando o sonho da aceitação.
.
(Neimar de Barros)

sábado, 1 de novembro de 2008

ALEGRIA INSTATÂNEA

Alegria que passa... O ar está pesado.
Tão pesado que parece chumbo caindo sobre a cabeça.
O mundo virou e minha alegria instantânea,
Transmutou com o ar cínico que me cerca.
Noite incerta e traiçoeira.
Os amigos nem existem mais.
Suas cabeças, já não sustentam mais.
O mundo transformou num objeto obscuro.
Assim como os olhos que nem tenta me mirar.
Olha! Vê! Já não sou mais eu, ou será que não é você?
Seguindo na estrada rotineira, percebo:
Tudo volta ao “normal”, se eu tomo uma garrafa de vinho.
Com meus "amigos temporários" numa mesa de bar.