quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

VITÓRIA PARCIAL


Só por hoje,
Entre a incerteza e a rendição.
Sobrevivendo numa liberdade vigiada
Mantendo o abismo distante.

De olhos fechados,
Numa curva sem freios
No recomeço do fim,
Na ausência dos meios.

No sussurro da avalanche
Na brisa do furacão
No respingo da tempestade
Na faísca da explosão
Na suavidade do caos
Nas esquinas do deserto

O campo de força foi fragilizado
O escudo severamente rachado

Só por hoje...
Não é liberdade, mas é uma fuga
Um auto-resgate contínuo
Correnteza que arrasta,
Correntes que limitam

Só por hoje,
Mais um leão foi morto.
Haverá outro amanhã.

(Ícaro Martins)

sábado, 8 de outubro de 2011

CANÇÃO EXILADA


Minha terra tem palmeiras,
Buracos e sujeira

As aves, que aqui gorjeiam,

São urubus anunciando um cadáver no canavial.


Nosso céu tem nuvens negras

De chuva fora de época e poluição

Nossos bosques...Que bosques??

Nossa vida... só desilusão.


Em cismar, sozinho, à noite,

É um convite pra ser assaltado.

Minha terra tem palmeiras,

E lixo pra todo lado.


Minha terra tem usineiros
Que escravizam mão-de-obra.
A educação está em falta.
E violência tem de sobra.


Minha terra tem semáforos
Cheios de pedintes e assaltantes
Minha terra tem favelas e grotas

Esquecidas pelos governantes.
.
(I. Martins)

terça-feira, 30 de agosto de 2011

"SOLIDÃO"



Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo... Isto é carência.

Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar... Isto é saudade.

Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes, para realinhar os pensamentos... Isto é equilíbrio.

Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente para que revejamos a nossa vida... Isto é um princípio da natureza.

Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado... Isto é circunstância.

Solidão é muito mais do que isto.

Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma.....

domingo, 14 de agosto de 2011

O SUICÍDIO FATAL DO CADÁVER MORTO

Havia, naquele cadáver ambulante, muito vigor mortício. Ele vagava por aí, pensando em parar de vez... mais uma vez. E então, pensou: "Se o amanhã vier, eu irei embora. O mundo ficou pequeno demais para nós dois."
Então, um dia, resolveu acelerar o processo de mortificação, obituando-se e necrofiliando-se.
Na semana seguinte, ele constatou que tinha dado tudo certo no seu velório. Apenas algumas pessoas não compareceram. Talvez, já estivessem mortas. Continuou a vagar... agora com outra perspectiva, como se vivesse numa eterna madrugada, com ecos de vozes conhecidas e ao mesmo tempo indescritíveis. Via trechos de sua morte antiga, passando como trailers, projetados na parede da sala, no labirinto da sua mente.
Não há fim nessa história... o desfecho é uma continuação que se faz na lógica do paradoxo da vida desse cadáver morto. Falecidamente, ele vivia de forma intensa. Um dia a mais era um dia a menos, assim como na vida de qualquer outro ser. Mas durante seu processo de decomposição cotidiano, ele viveu... ele enfrentou o suicídio diário, de cabeça erguida, pois não poderia baixar a cabeça com uma corda no pescoço. Ele se foi... mas está sempre por aqui... assistindo à sua própria ausência.

(Ícaro Martins)

domingo, 19 de junho de 2011

MUSICALMENTE

Acho que, durante a minha vida, precisei de um pouco de atenção... acho que não sei quem sou, mas sei do que não gosto... Será que é isso que necessito? Saber que sou apenas um cara, cansado de correr na direção contrária, sem pódium de chegada ou beijo de namorada... Hoje, eu vivo sem surpresas, com um coração cheio como um aterro de lixo, num trabalho que mata lentamente e mágoas que não se curam. Isso faz com que eu pense: existência... o que isso me importa? Eu existo da melhor maneira que posso. O passado faz agora parte do meu futuro. Meu presente está totalmente fora de controle. Às vezes, é necessário ficar sedado confortavelmente, para que se possa suportar a realidade ao meu redor. Então, por um instante, eu saio do caminho para o mundo passar. Porque se tudo é tão ruim, por onde eu devo ir? Cansei de procurar o pouco que sobrou... e com isso, eu tenho feito tudo errado, eu peguei o caminho errado, que me levou a tendências erradas... Eu fui deixando-me levar... com a esperança perfeitamente descuidada... As coisas não são o que parece... nada faz sentido. Tudo parece cair... Como cair do céu é tão simples... Queda que a tudo e a todos transtorna... As bombas, a chuva, os anjos, os loucos... o mundo todo na velocidade terrível da queda. Ao mudar nossos caminhos, seguindo em direções contrárias, surge as doenças sentimentais... olhos desfocados, quando tudo está nitidamente morrendo...Ter esperança é hipocrisia. A felicidade é uma mentira e a mentira é salvação. Somos quem podemos ser... e hoje eu não sou ninguém.

(I. Martins)

quarta-feira, 18 de maio de 2011

ESCRAVO DO MUNDO


Mais um dia que sufoca... parece ser um pesadelo
Fazendo tudo mecanicamente, como um corpo sem espírito
Num trabalho que mata lentamente, sem prazer, sem alegria
Tornando-me meu próprio inimigo,
Submetendo-me a tudo que detesto.

Às vezes, ainda consigo ensaiar um sorriso
Às vezes, eu sonho em viver numa ilha distante
Mas logo acordo pra viver em contradição
Tornando-me mais um escravo do mundo.

Assim como um feto abortado do ventre da felicidade,
Correndo de olhos fechados pela contra-mão
Nessa vida sem sentido, sem prazer, sem alegria
Navegando por águas escuras,
Afogando-me nos próprios pensamentos

Às vezes, eu tenho que engavetar meus desejos
Às vezes, sonho em viver sem sociedade
Mas logo acordo pra viver em contradição
Tornando-me mais um escravo do mundo.

(I. Martins)

terça-feira, 3 de maio de 2011

UM E OUTRO






Um fala, o outro escuta
Um cala, o outro muta
Um grita, o outro olha
Um habita, o outro desfolha

Um aperta, o outro solta
Um liberta, o outro volta
Um salta, o outro pousa
Um falta, o outro ousa

Entrar na fenda que nos separa
da ponte que nos aproxima
Quem retirou a última pedra
do muro que estávamos vivendo em cima?

Um corre, o outro estanca
Um morre, o outro arranca
Um atura, o outro devora
Um mistura, o outro demora
Um concorda, o outro sabe
Que um transborda, o outro cabe
Um chamusca, o outro congela
Um busca, o outro revela

A fenda que nos separa
da ponte que nos aproxima
Quem retirou a última pedra
do muro que estávamos vivendo em cima?

Um existe, o outro permanece
Um insiste, o outro acontece
Um estranha, o outro acostuma
Um acompanha, o outro desarruma
Um agarra, o outro conquista
Um esbarra, o outro despista
Um batalha, o outro entrega
Um encalha e o outro navega

Na fenda que nos separa
da ponte que nos aproxima
Quem retirou a última pedra
do muro que estávamos vivendo em cima?


(Paulinho Moska)

sexta-feira, 8 de abril de 2011


Sem comentários...

terça-feira, 22 de março de 2011

A DOR DE EXISTIR

Quando cessará a dor de existir?
Só no dia de nossa MORTE?...

Você sente a dor da existência?

Ignora-a... ou aprendeu a lhe dar com ela?

Essa dor pra uns não tem limite... por isso chegam ao suicídio...

Você vence essa dor...?

Consegue viver com ela naturalmente?

Ou finge que não a esta sentindo?...

Voce não sente a dor de existir?

Parabens! ...voce é forte...

Extremamente forte!!!!

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

ODEIO SER HUMANO


Odeio ter sentimentos não correspondidos.

Odeio sentir raiva não contida.

Odeio sentir desejos reprimidos.

Odeio fazer promessas não cumpridas.

Odeio ter sonhos não realizados.

Odeio injustiça e violência na minha frente.

Odeio fazer planos não concretizados.

Odeio sentir esse ódio diariamente.


Odeio saber que eu valho o que tenho.

Odeio perceber que não há reciprocidade.

Odeio ser sozinho entre todos.

Odeio saber que não existe felicidade.


(I. Martins)

domingo, 16 de janeiro de 2011

O eu



Quem sou eu? O que é o eu? Por que eu estou aqui? Quando irei parar? Onde irei parar? O que esse mundo está fazendo comigo? O que as pessoas falam e pensam sobre mim? Será que alguma estrela influencia a minha personalidade? Será que alguma onda do mar me traz e me leva algum sentimento? Será que alguma nuvem carrega os meus medos? Será que alguma brisa guia o meu amanhã? O que aprendi hoje? Aliás, o dia de hoje foi realmente necessário? Eu poderia apagá-lo sem sofrer coisa alguma que afetasse minha vida adiante? O que eu sinto pelas pessoas é recíproco? As pessoas me vêem como eu me vejo? O que eu faria se eu encontrasse a mim, no meio da rua? O que eu represento num determinado grupo? Alguém me admira? Alguém me menospreza? Alguém me ignora? Alguém me odeia? Alguém seria capaz de me amar? Eu seria capaz de me amar? Mesmo sendo tão egoísta a ponto de tentar suicídio? Quem sou eu? O que mudaria em mim se eu soubesse quem sou? Um dia eu serei livre? Estou aqui por pensar demais ou nunca pensei em estar aqui agora...? Amanhã estarei aqui? Se estiver, serei igual ao eu de hoje? Por que eu não esqueço? Por que ainda estou aqui? Por que ainda insisto em continuar? Isso valerá a pena? Por que eu não saí hoje? Será por querer eu queria ir embora de qualquer lugar que eu estivesse? Por que sou tão diferente dos outros? Seria bom ser igual? Eu continuaria sendo eu? Meus defeitos e minhas qualidades são frutos do meu eu ou do mundo que me cerca? Afinal de contas, se eu tivesse todas as respostas, o que iria favorecer? Eu realmente me importo com tudo isso? Eu ainda estou vivo? Ainda estou no jogo? Ainda tenho chances? Ainda tenho tempo? O que fazer com tanto sentimento? Com tantas dúvidas? Com tantos erros? Com tanta raiva? Raiva de não ser... de não poder... de não merecer... de não querer seguir... Onde irei amanhã? Será que irei me ver amanhã? Será que irei constatar que sei onde irei? Onde sempre estive... e talvez sempre estar cada vez mais...  Longe...  Longe de mim.
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(I. Martins)