segunda-feira, 29 de junho de 2009

ETERNA MADRUGADA


Não chore em meu túmulo...
Eu não estou lá...
Eu apenas estou dormindo...
Numa eterna madrugada.
Estou a mil ventos que sopram.
Eu sou a luz do sol sobre os grãos
Que não chegaram a ser frutos.
Eu sou a suave chuva de outono...
Quando você acordar de manhã na calmaria,
Eu vou ser a tempestade que chegará em seguida...
Eu sou o brilho de alguma estrela
Ofuscado por nuvens negras...
Não vá lá ao meu túmulo para chorar...
Eu não estou lá.
.
(I. Martins)

sábado, 27 de junho de 2009

DO VAZIO À ESCURIDÃO

Estamos sozinhos... Perdidos em pensamentos suicidas. Tentando exorcizar nossos tormentos, mas eles sempre regressam.
O que a vida fez com a gente? Ou o que a gente fez com a nossa vida? A minha parece que foi extinta. Passou a ser uma insignificante existência.
Cansei desses constantes momentos, em que o passado me assombra, quando a dor me sufoca, onde o resto do mundo torna-se um grande vazio.

Nesse instante, não há mais nada a fazer... Nada nos resta... Há não ser o passar angustiante do tempo... Estamos seguindo do vazio à escuridão.
(I. Martins)

sexta-feira, 19 de junho de 2009

SOCIEDADE


(Paródia de “O Pulso” de A. Antunes/M. Fromer/T. Bellotto)

EGOÍSMO, MELANCOLIA, ORGULHO, INDIFERENÇA.
MAU HUMOR, MENTIRA, HIPOCRISIA, OFENSA.
RANCOR, IGNORÂNCIA, INSENSATEZ, INCOMPETÊNCIA.
GROSSERIA, APATIA, DESACATO, VIOLÊNCIA...
 E AINDA HÁ CONVIVÊNCIA...
.
PRECONCEITO, INCERTEZA, INVEJA, TRAIÇÃO.
RAIVA, ÓDIO, VINGANÇA, OMISSÃO
CISMA, CINISMO, INDESCÊNCIA, DESORGANIZAÇÃO.
IMPUREZA, IMPACIÊNCIA, IMPRUDÊNCIA, INCOMPREENSÃO...
E AINDA HÁ MULTIDÃO...
.
INCONVENIÊNCIA, ENGANO, REPUGNÂNCIA, VAIDADE.
ESTUPIDEZ, INDECISÃO, CORRUPÇÃO, FALSIDADE.
INSULTO, COVARDIA, OPOSIÇÃO, IMPUNIDADE.
ARROGÂNCIA, PREGUIÇA, MONOTONIA, INABILIDADE...
E AINDA HÁ SOCIEDADE...
.
(I. Martins)

sábado, 13 de junho de 2009

À PROCURA DO "EU" (parte 6)

MORTO, ENTERRADO E ESQUECIDO

NÃO FAÇO PARTE DO SEU PRANTO
GERALMENTE ESCONDIDO
NÃO FAÇO PARTE DO SEU PESADELO
DIARIAMENTE REPETIDO
NÃO FAÇO PARTE DOS SEUS SONHOS
NÃO REALIZADOS
SÓ FAÇO PARTE DE UM PASSADO
MORTO, ENTERRADO E ESQUECIDO.

NÃO FAÇO PARTE DOS SEUS DESEJOS
FREQÜENTEMENTE REPRIMIDOS
NÃO FAÇO PARTE DOS SEUS SUICÍDIOS
DIARIAMENTE COMETIDOS
NÃO FAÇO PARTE DOSS SEU PASSOS
VAGAMENTE DESNORTEADOS
SÓ FAÇO PARTE DE UM PASSADO
MORTO, ENTERRADO E ESQUECIDO.

(I. Martins)

terça-feira, 9 de junho de 2009

"RESTOS DE ILUSÕES"


Pelo caminho,
Apenas restos de ilusões...
Misturados a pedaços de sonhos destruídos...
Lembranças do que não aconteceu...

Escombros de planos
E promessas incendiadas...




domingo, 7 de junho de 2009

QUASE


Quase todos os dias,
Sinto falta de mim mesmo
Uma parte que sumiu,
Quase impossível de recuperar.
Quase não consigo suportar
O caminho que insisto em seguir:
Sonhos e sorrisos quase inexistentes,
Quase impossível ser feliz.
Quase nada se diz,
Quase tudo eu recordo
Quase sempre me mato
Quase sempre longe de mim.

Quase todos os dias,
Satirizado pela própria insanidade
Quase tudo é ilógico,
Quase tudo é só saudade.

(I. Martins)

quinta-feira, 4 de junho de 2009

NOSSA SOLIDÃO



Haverá alguém que, ao menos uma vez, não tenha sentido um travo amargo na boca, um nó na garganta, o coração magoado, o peito sufocado na dor de um estranho vazio, a vontade de olhar uma outra face, o silêncio pesado que arrasa a mente ou a necessidade de estar com alguém ausente? Já lhe aconteceu não ter a quem perguntar uma dúvida incômoda e dizer aquilo que simplesmente gostaria de desabafar? Já teve a sensação de não existir quem o compreenda e aceite tal como é nem quem esteja disposto a ajudá-lo? Já se sentiu desprotegido, sem esperança ou depreciado por todos? Então, conhece o que pode ser a solidão: a fria e sombria solidão.

A solidão, a ansiedade, a dor, a culpa ou a morte constituem etapas no nosso percurso humano e têm sempre um significado, mesmo que tal nos custe a admitir. Precisamos olhá-las e entendê-las, assim como reparamos naquilo que gostamos, amamos, nos satisfaz ou alegra. Elas não são indignas nem têm forçosamente que assustar. Senão, encontrar-nos-ão sempre num certo dia, desprevenidos e impreparados.

Mesmo as experiências mais dolorosas, se positivamente encaradas, convidam-nos a ponderar quem somos, o que queremos e para onde vamos, permitindo, com algum esforço, assimilar uma experiência e adquirir uma maior auto-consciência. A sós, entre a multidão

Em diversos momentos, se estivermos atentos, percebemos o quão frágeis, vulneráveis, influenciáveis e fracos somos - como poeira das estrelas. Deixamo-nos, tantas vezes, levar pela mutabilidade das circunstâncias e das situações, pelos nossos instintos, por modas, tendências sociais ou qualquer outro tipo de pressão que os outros nos exercem. Invocamos direitos, autoridade e poder mas, na realidade, por ignorância, incapacidade ou falta de empenho, esquecemos as nossas responsabilidades e deveres - principalmente aquele que é o primordial e mais sagrado desígnio: Ser! Talvez por isso se diga que “mais vale ser do que parecer”. Entenderemos alguém ou alguma coisa se não nos questionarmos, se ignorarmos o que é importante ou incomódo, valorizando o que é secundário? Como será então possível não nos sentirmos sós? O que poderá preencher-nos? (...)

(Fragmentos - I. Martins/A. Oliveira)