sábado, 28 de fevereiro de 2009

Enquanto não superarmos a ânsia do amor sem limites,
Não podemos crescer emocionalmente.
Enquanto não atravessarmos a dor de nossa própria solidão,
continuaremos a nos buscar em outras metades.
Para viver a dois, antes, é necessário ser um.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

IMENSO MUNDO VAZIO


O MUNDO TODO É UM IMENSO VAZIO... CHEIO DE SERES DESUMANOS E EGOÍSTAS...
ENQUANTO PASSEIO LENTAMENTE PELO CAOS, VEJO PESSOAS CORRENDO SEM DIREÇÃO... PAGANDO CARO POR INSTANTÂNEAS FELICIDADES, QUE BREVEMENTE SE TRANSFORMAM EM FRUSTRAÇÕES, ENQUANTO SUAS ALMAS SÃO CORROÍDAS COMO FERRO VELHO OXIDADO.
ÀS VEZES, ACHO QUE NÃO PERTENÇO A ESSE MUNDO... ÀS VEZES, ACHO QUE JÁ MORRI, ANTES MESMO DE VIVER... (SE É QUE ISSO SEJA VIDA). ENTÃO, EU FICO ACHANDO QUE NÃO DEVERIA TER SAÍDO DO MEU QUARTO, COMO SE MAIS NADA ME IMPORTASSE... A BUSCA POR ESTABILIDADE PROFISSIONAL, MATAR-ME PARA GANHAR DINHEIRO PARA COMPRAR COISAS DAS QUAIS NÃO PRECISO PARA MOSTRAR ÀS PESSOAS AQUILO QUE NÃO SOU... A BUSCA DE UM SONHO... DE ENCONTRAR UMA PESSOA IDEAL... TUDO ISSO FICOU PARA TRÁS... COMO SE EU TIVESSE EM OUTRO NÍVEL DE VIDA (OU DE MORTE)... NEM ACIMA... NEM ABAIXO... TALVEZ, PARALELO.

HÁ MOMENTOS, QUE QUERIA ESTAR NUM HOSPÍCIO, TENDO ANTIDEPRESSIVOS E CALMANTES A ELIMINAR GRADATIVAMENTE A MINHA SANIDADE E, TALVEZ, COM ISSO, LIBERTANDO-ME DA DOR QUE O MUNDO DOS “NORMAIS” OFERECE.

OU ENTÃO, NÃO SUPORTARIA MAIS MANTER O MONSTRO PRESO DENTRO DE MIM E SAIRIA PELAS RUAS QUEBRANDO VITRINES, DESTRUINDO CARROS, INCENDIANDO LOJAS, PROVOCANDO ACIDENTES, OUVIR O SOM DOS FREIOS DE CARROS, AO ATRAVESSAR SEM OLHAR PROS LADOS E SER AMEAÇADO COM O SORRISO SARCÁSTICO NO ROSTO, COMO SE TIVESSE SENDO ELOGIADO... (NESSAS ALTURAS, NÃO HAVERIA DIFERENÇA)...
ATÉ QUE ALGUÉM, QUE SE ACHARIA NA SUA RAZÃO E DIREITO, SACARIA UMA ARMA E ESTOURARIA MINHA CABEÇA E EU CAIRIA NO CHÃO, SEM TER CHANCE OU TEMPO DE AGRADECER A ESSA PESSOA QUE ESTARIA DIANTE DE MIM, FURIOSO E CONFUSO, ASSISTIDO POR DEZENAS DE PESSOAS QUE QUERIAM TER FEITO O MESMO. (O MESMO O QUE? O QUE EU FIZ OU O QUE ELE FEZ?... FICA AÍ A DÚVIDA).

OU EM VEZ DISSO TUDO, EU TENTE ME ADEQUAR AO QUE SOBROU NO MEIO DOS ESCOMBROS DO QUE UM DIA FOI A MINHA VIDA E TENTAR VIVER COMO MAIS UM HIPÓCRITA, MENTINDO PARA MIM MESMO, FINGINDO QUE AINDA HÁ ESPERANÇA, TORNANDO-ME MAIS UM ESCRAVO DO MUNDO E MORRER DIARIAMENTE NUM IMENSO MUNDO VAZIO.

(I. Martins)

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

A FLOR E A NÁUSEA


Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cizenta.
Melancolias, mercadorias, espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?

Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que triste são as coisas, consideradas em ênfase.

Vomitar este tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam pra casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens macias avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

(C. Drummond de Andrade)

domingo, 22 de fevereiro de 2009

NASCENDO E MORRENDO


Todos os dias, eu nasço e morro
Diante de mais uma dor
De mais uma decepção
De mais uma perda ou despedida
Diante de mais uma frustração.

Todo dia, eu morro e renasço
Diante de uma cena de exclusão
Diante de mais uma data significativa
Diante de um sentimento de inadaptação
Diante de uma lembrança corrosiva.

Diante de desejos reprimidos
Diante de mais um amanhã incerto
Diante de uma solidão infinita
Diante da percepção de que estás por perto.

Diante de uma tragédia pessoal
De um grito abafado implorando por socorro
Diariamente, vou morrendo e renascendo...
Mas diante de ti, eu apenas morro.


(I. Martins)

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

HOJE...


Um dia a mais é um dia a menos... E hoje, mais do que nunca, o que eu desejava era o suficiente para eu não me sentir menos do que fui ontem.
Eu desejava uma trégua (com meus conflitos internos)... Algo que me fizesse acreditar que ainda estou vivo.
Eu desejava que os momentos de alegria instantânea pudessem se prolongar e fizessem com que fosse possível eu ter alguém para compartilhar os meus sonhos, reencontrar com a reciprocidade... Mas isso parece estar tão distante... como se a vida não me concedesse o direito de tentar ser feliz de novo.
Isso faz com que eu pareça não caber mais em mim ou como eu estivesse preso dentro de mim mesmo... Aliás, pareço não caber ou não fazer parte dessa realidade em que vivo: um pesadelo diário, onde as pessoas simplesmente te abandonam e se vão, sem se importarem com aqueles que, por alguma razão, ficaram para trás.
Vou seguindo num caminho tangencial ao que seguia, como vítima de uma escolha que não tive o direito de fazer.
Meus planos de papel viraram cinzas... Minha semente foi extraída da terra e jogada no asfalto e o único fruto que eu obtive tem sabor de angústia...
E tudo que me resta é a minha melancolia em forma de arte. Meus desenhos, ou traços de sonhos, minha poesia ou palavras escritas pra ninguém... rascunhos de pensamentos... que me fazem companhia no meu refúgio provisório.
Hoje , sinto-me excluído do mundo, esse imenso vazio... cheio de hipocrisia, de dor, injustiça e ganância.

Hoje todas as músicas são tristes... todos os casais me fazem sentir desprezível... todos os sorrisos me fazem sentir distante de mim mesmo.
Por que as pessoas são tão inconstantes ou momentâneas? Por que são tão fúteis, a ponto de ver e desejar apenas o que passa através da retina? Será que só eu sou vítima dos meus pensamentos ou refém dos meus desejos? Seria tão cômodo viver sem sentimentos...
Ainda tento disfarçar... Mas quando eu disfarço, eu me desfaço... e não é fácil depois tentar unir meus pedaços caídos no chão.

Chego até a desejar chegar ao fim do abismo, há tempos projetado em mim, ouvir o silêncio, ver a escuridão e me livrar dessa prisão sem grades em que me encontro.
E por que não dizer com todas as letras: desejar a morte? Pois ela não é a coisa pior do mundo. Há coisas bem piores.
Ter vivido sem nunca ter conhecido o amor é uma delas. Amar e sofrer por isso, a ponto de perder o ânimo é uma delas. Ter seus desejos despertados e logo reprimidos é uma delas. Sentir solidão em todos os aspectos é uma delas. Perder a fé em Deus ou em si próprio também é uma delas.

A morte é apenas a chave dessa prisão.

(I. Martins)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

OUTRA VEZ


Ela se foi... Levando consigo toda a minha alegria,
Todas as minhas promessas...
Mas ela as jogou no meio do caminho,
Onde o vento da saudade varreu tudo
E tudo se perdeu... Assim como eu me perdi...


Preciso viver de novo... antes que eu morra outra vez.
Fui deixado para trás e desde então, só tenho regredido...

Parei no tempo...
Cada hora parece ser um mês dentro de mim...
Mas cada ano que passa, parece ter sido apenas poucos dias, em relação ao que sinto,
Pois o tempo não está curando minhas feridas...

Ela se foi... há anos...
Mas pareço ouvir o seu adeus diariamente...
Ela se foi...
E mais uma vez eu vejo todos os meus sonhos nas mãos de outro alguém.

(I. Martins)

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

CÂNTICO NEGRO


"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí!
Só vou por onde me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,

Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós

Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?
...Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,

Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,

Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

(José Régio)

sábado, 14 de fevereiro de 2009

DOS TRÊS MAL AMADOS


O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato
O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço
O amor comeu meus cartões de visita,
O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome
O amor comeu minhas roupas, meus lenços e minhas camisas,
O amor comeu metros e metros de gravatas
O amor comeu a medida de meus ternos,
O número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus
O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos
O amor comeu minha paz e minha guerra,
Meu dia e minha noite, meu inverno e meu verão
Comeu meu silêncio,
Minha dor de cabeça,
Meu medo da morte.

(João Cabral de Melo Neto)

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Drummond - O Enterrado Vivo

A dominante é a individualidade de Drummond, poeta da ordem e da consolidação, ainda que sempre, e fecundamente, contraditórias. Torturado pelo passado, assombrado com o futuro, ele se detém num presente dilacerado por este e por aquele, testemunha lúcida de si mesmo e do transcurso dos homens, de um ponto de vista melancólico e cético. Mas, enquanto ironiza os costumes e a sociedade, asperamente satírico em seu amargor e desencanto, entrega-se com empenho e requinte construtivo à comunicação estética desse modo de ser e estar.

O Enterrado Vivo

É sempre no passado aquele orgasmo,
É sempre no presente aquele duplo,
É sempre no futuro aquele pânico.
É sempre no meu peito aquela garra.
É sempre no meu tédio aquele aceno.
É sempre no meu sono aquela guerra.
É sempre no meu trato o amplo distrato.
Sempre na minha firma a antiga fúria.
Sempre no mesmo engano outro retrato.
É sempre nos meus pulos o limite.
É sempre nos meus lábios a estampilha.
É sempre no meu não aquele trauma.
Sempre no meu amor a noite rompe.
Sempre dentro de mim meu inimigo.
E sempre no meu sempre a mesma ausência.

(C. Drummond de Andrade)

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

DESTRUÍDO (DESTROYED)


Eu fiz o melhor para agradar a você
Mas o meu melhor nunca foi o suficiente
De alguma forma, você só é capaz de enxergar
Tudo o que eu não sou
Você já olhou para trás?
Não tem medo dos pedaços que irá encontrar?

Eu falhei com você
Mas você também falhou comigo
É tão fácil destruir e condenar aqueles que você não compreende
Você um dia chegou a pensar se é justo?
Durante toda uma vida, por que você não tentou?

Eu fecho os meus olhos
Como se caminhasse sobre a linha fina que divide o amor e o ódio
Por aquele que tem um mesmo sangue correndo nas veias
Você não mostra arrependimentos
Por todas as coisas que disse ou fez

Eu falhei com você
Mas, acredite, você também falhou comigo
É tão fácil destruir e condenar aqueles que você não compreende
Durante toda uma vida, por que você não tentou?

(Tristania - versão: I. Martins)

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

O MOÇO VELHO

Conheci essa música recentemente, apesar de ela ser muito antiga. De 1973, pra ser exato. Ela tem muita poesia e ao ouví-la, eu percebir uma grande semelhança com uma certa passagem da minha vida.

"Eu sou um livro aberto sem histórias
Um sonho incerto sem memórias
Do meu passado que ficou
Eu sou um porto amigo sem navios
Um mar, abrigo a muitos rios
Eu sou apenas o que sou

Eu sou um moço velho
Que já viveu muito
Que já sofreu tudo
E já morreu cedo

Eu sou um velho moço
Que não viveu cedo
Que não sofreu muito
Mas não morreu tudo

Eu sou alguém livre
Não sou escravo e nunca fui senhor
Eu simplesmente sou um homem
Que ainda crê no amor

Eu sou um moço velho
Que já viveu muito
Que já sofreu tudo
E já morreu cedo

Eu sou um velho, um velho moço
Que não viveu cedo
Que não sofreu muito
Mas não morreu tudo..."

(R. Carlos)