“Na nossa vida, acontecem fatos que nos fazem sentir injustiçados de alguma forma. Começamos a nos revoltar e perder o rumo... Tudo começa a desandar e, quando você menos espera, tudo está um caos na sua vida...Tudo foi conseqüência de um único acontecimento... você começa a viver de uma forma que jamais viveria se aquilo não tivesse acontecido... isso se torna a sua "realidade alternativa", na qual você está preso e nunca poderá sair... porque nada será como antes...A vida, então, torna-se um suicídio diário... Sua própria angústia de não ter aquilo q deseja estará sempre te corroendo dia após dia...”
(I. Martins)
VERSÕES DE MIM (Luís Fernando Veríssimo)
Vivemos cercados pelas nossas alternativas, pelo que podíamos ter sido. Ah, se apenas tivéssemos acertado aquele número (unzinho e eu ganhava a Sena acumulada), topado aquele emprego, completado aquele curso, chegado antes, chegado depois, dito sim, dito não, ido para Londrina, casado com a Doralice, feito aquele teste...
Agora mesmo, neste bar imaginário em que estou bebendo para esquecer o que não fiz (aliás, o nome do bar "Imaginário"), sentou-se um cara do meu lado direito e se apresentou:
- Eu sou você, se tivesse feito aquele teste no Botafogo.
E ele tem mesmo a minha idade e a minha cara.
E o mesmo desconsolo.
- Por que o desconsolo? Sua vida não foi melhor do que a minha?
- Durante um certo tempo, foi. Cheguei a titular. Cheguei à seleção. Fiz um grande contrato. Levava uma grande vida. Até que um dia...
- Você hesitou entre sair e não sair do gol. Não saiu, levou o único gol do jogo, caiu em desgraça, largou o futebol e foi ser um medíocre propagandista.
- Como é que você sabe?
- Eu sou você, se tivesse saído do gol.
Levei um chute na cabeça. Não pude ser mais nada. Nem propagandista. Ganho uma miséria do INSS e só faço isso: bebo e me queixo da vida.
Se não tivesse ido nos pés do atacante...
- Eu sou você, se tivesse entrado para o serviço público.
Olhei em volta. Eu lotava o bar.
Todas as mesas estavam ocupadas por minhas alternativas e nenhuma parecia estar contente.
Comentei com o barman que, no fim, quem estava com o melhor aspecto ali era eu mesmo.
O barman fez que sim com a cabeça, tristemente.
Só então notei que ele também tinha a minha cara, só que com mais rugas.
- Quem é você? - Perguntei.
- Eu sou você, se tivesse casado com a Doralice.
- E...?
Ele não respondeu. Só fez um sinal, com o dedão virado para baixo.
Creio que a vida não é feita das decisões que você não toma, ou das atitudes que você não teve, e sim daquilo que foi feito!
Se bom ou não, penso, é melhor viver do futuro que do passado.