quarta-feira, 15 de outubro de 2008

REALIDADES ALTERNATIVAS

“Na nossa vida, acontecem fatos que nos fazem sentir injustiçados de alguma forma. Começamos a nos revoltar e perder o rumo... Tudo começa a desandar e, quando você menos espera, tudo está um caos na sua vida...Tudo foi conseqüência de um único acontecimento... você começa a viver de uma forma que jamais viveria se aquilo não tivesse acontecido... isso se torna a sua "realidade alternativa", na qual você está preso e nunca poderá sair... porque nada será como antes...A vida, então, torna-se um suicídio diário... Sua própria angústia de não ter aquilo q deseja estará sempre te corroendo dia após dia...”

(I. Martins)
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VERSÕES DE MIM (Luís Fernando Veríssimo)

Vivemos cercados pelas nossas alternativas, pelo que podíamos ter sido. Ah, se apenas tivéssemos acertado aquele número (unzinho e eu ganhava a Sena acumulada), topado aquele emprego, completado aquele curso, chegado antes, chegado depois, dito sim, dito não, ido para Londrina, casado com a Doralice, feito aquele teste...

Agora mesmo, neste bar imaginário em que estou bebendo para esquecer o que não fiz (aliás, o nome do bar "Imaginário"), sentou-se um cara do meu lado direito e se apresentou:
- Eu sou você, se tivesse feito aquele teste no Botafogo.
E ele tem mesmo a minha idade e a minha cara.
E o mesmo desconsolo.
- Por que o desconsolo? Sua vida não foi melhor do que a minha?
- Durante um certo tempo, foi. Cheguei a titular. Cheguei à seleção. Fiz um grande contrato. Levava uma grande vida. Até que um dia...
- Você hesitou entre sair e não sair do gol. Não saiu, levou o único gol do jogo, caiu em desgraça, largou o futebol e foi ser um medíocre propagandista.
- Como é que você sabe?
- Eu sou você, se tivesse saído do gol.
Levei um chute na cabeça. Não pude ser mais nada. Nem propagandista. Ganho uma miséria do INSS e só faço isso: bebo e me queixo da vida.
Se não tivesse ido nos pés do atacante...
- Eu sou você, se tivesse entrado para o serviço público.

Olhei em volta. Eu lotava o bar.
Todas as mesas estavam ocupadas por minhas alternativas e nenhuma parecia estar contente.
Comentei com o barman que, no fim, quem estava com o melhor aspecto ali era eu mesmo.
O barman fez que sim com a cabeça, tristemente.
Só então notei que ele também tinha a minha cara, só que com mais rugas.
- Quem é você? - Perguntei.
- Eu sou você, se tivesse casado com a Doralice.
- E...?
Ele não respondeu. Só fez um sinal, com o dedão virado para baixo.
Creio que a vida não é feita das decisões que você não toma, ou das atitudes que você não teve, e sim daquilo que foi feito!

Se bom ou não, penso, é melhor viver do futuro que do passado.

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