quarta-feira, 18 de maio de 2011

ESCRAVO DO MUNDO


Mais um dia que sufoca... parece ser um pesadelo
Fazendo tudo mecanicamente, como um corpo sem espírito
Num trabalho que mata lentamente, sem prazer, sem alegria
Tornando-me meu próprio inimigo,
Submetendo-me a tudo que detesto.

Às vezes, ainda consigo ensaiar um sorriso
Às vezes, eu sonho em viver numa ilha distante
Mas logo acordo pra viver em contradição
Tornando-me mais um escravo do mundo.

Assim como um feto abortado do ventre da felicidade,
Correndo de olhos fechados pela contra-mão
Nessa vida sem sentido, sem prazer, sem alegria
Navegando por águas escuras,
Afogando-me nos próprios pensamentos

Às vezes, eu tenho que engavetar meus desejos
Às vezes, sonho em viver sem sociedade
Mas logo acordo pra viver em contradição
Tornando-me mais um escravo do mundo.

(I. Martins)

terça-feira, 3 de maio de 2011

UM E OUTRO






Um fala, o outro escuta
Um cala, o outro muta
Um grita, o outro olha
Um habita, o outro desfolha

Um aperta, o outro solta
Um liberta, o outro volta
Um salta, o outro pousa
Um falta, o outro ousa

Entrar na fenda que nos separa
da ponte que nos aproxima
Quem retirou a última pedra
do muro que estávamos vivendo em cima?

Um corre, o outro estanca
Um morre, o outro arranca
Um atura, o outro devora
Um mistura, o outro demora
Um concorda, o outro sabe
Que um transborda, o outro cabe
Um chamusca, o outro congela
Um busca, o outro revela

A fenda que nos separa
da ponte que nos aproxima
Quem retirou a última pedra
do muro que estávamos vivendo em cima?

Um existe, o outro permanece
Um insiste, o outro acontece
Um estranha, o outro acostuma
Um acompanha, o outro desarruma
Um agarra, o outro conquista
Um esbarra, o outro despista
Um batalha, o outro entrega
Um encalha e o outro navega

Na fenda que nos separa
da ponte que nos aproxima
Quem retirou a última pedra
do muro que estávamos vivendo em cima?


(Paulinho Moska)