sexta-feira, 31 de outubro de 2008

SEM SURPRESAS

Um coração tão cheio quanto um aterro
Um trabalho que te mata lentamente,
Feridas que não vão cicatrizar
Você parece tão cansado e infeliz,
Humilhado pelo governo...
Eles não... eles não falam por nós.


Eu vou levar uma vida tranqüila,
Um aperto de mão de monóxido de carbono
Sem alarmes e sem surpresa,
sem alarmes e sem surpresas,

Silêncio... silêncio...


Este é meu ajuste final
Minha última dor ventral
Sem alarmes e sem surpresa,
Sem alarmes e sem surpresas,

Algo como uma casa tão bonita
E um jardim tão bonito.
Sem alarmes e semsurpresa,
Sem alarmes e sem surpresas,
Sem alarmes e sem surpresas, por favor.


("No surprises" by Radiohead )

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

APATIA


Gostaria de ter algo legal para postar agora aqui... Realmente estou sem criatividade e sem inspiração.
Hoje foi um dia vazio, assim como os anteriores... E estou escrevendo cada vez menos...
Estou ficando apático a algumas coisas e, sinceramente, não seria uma coisa ruim.
Muitas situações atuais e tudo que já se passou me fazem crer que o mundo está cada vez mais frio e todo o meu sentimentalismo não convém mais.
Não sei quando voltarei a postar algo...

Ninguém lê mesmo...

(I. Martins)

terça-feira, 28 de outubro de 2008

NINGUÉM

Todos se vão... todos se afastam... todos se ausentam...
Não há ninguém aqui... Não há ninguém por aí...
Não há ninguém com quem se possa contar...
A solidão hoje é a minha companheira...



"Por Deus, nunca me vi tão só, é a própria fé o que destrói. Esses são dias desiguais..." (R. Russo)

HOMEM-NADA
.
SER SOZINHO. SER DISTINTO.
SER SÓ. SER FRUSTRADO.
SER NINGUÉM. SER VÃO.
SER ÚNICO, SER BALDADO.

SER INVISÍVEL. SER SOMBRIO.
SER OCULTO. SER EVITÁVEL.
SER NULO. SER VAZIO.
SER TORVO. SER DISPENSÁVEL.

SER ISOLADO. SER FÚTIL.
SER EXTINTO. SER SUBTRAÍDO.
SER APÁTICO. SER INÚTIL.
SER OMISSO. SER ESQUECIDO.

(I. Martins)

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

POESIA VISUAL

A POESIA VISUAL é o produto literário que se utiliza de recursos (tipo)gráficos e/ou puramente visuais,de tendência caligramática, ideogramática, geométrica ou abstrata, cujo centramento gráfico-visual não exclui outras possibilidades literárias (verbais, sonoras etc.). Vendo algumas obras de autores como Augusto de Campos, Arnaldo Antunes, Millôr Fernandes, entre outros, comecei a desenvolver essa técinica. E criei algumas coisas desse estilo:
("Um dia a mais é um dia a menos" - Ícaro Martins)


("Tempo de trevas" - Ícaro Martins)


("Monotonia" - Ícaro Martins)

terça-feira, 21 de outubro de 2008

UMA HISTÓRIA DE OMISSÃO

LEVANTA, ZÉ

"Mulher, a partir de hoje não vou atender mais o telefone.
Diz que nao estou, sei lá, qualquer coisa!
- E se for alguma coisa importante?
- Não quero saber, tenho a minha vida, os meus negócios e quero sossego aqui em casa, os outros que se lixem, que deixem recado!
- Pai, o telefone está a tocar!
- Se for pra mim, filho, MINTA, diz que eu não estou!
- Mentir???
- Isso mesmo, ou tu nunca fizeste isso?
Eram três horas da madrugada quando o telefone iniciou o seu grito da noite.
Tocou, tocou e tocou e ninguém atendeu.
A esposa dizia: - Levanta Zé!
- Eu não! Não vou descer as escadas para atender o telefone. Quem quiser falar comigo que fale de dia... ou melhor, deixe recado de dia.
- Levanta, Zé!
- Não vou, não vou, e não vou...!
Três e quinze. O telefone parou de tocar. Dormiram o sono dos justos.
No dia seguinte, foi para a empresa. Caprichos do "destino": o sinal vermelho apareceu. Parou o carro. Ao seu lado, na calçada, uma banca de jornal. Um jornal escancarado com uma manchete violenta: "SUICÍDIO NO BAIRRO MILIONÁRIO".
A fotografia abaixo era... era a do seu amigo, sim, do melhor amigo que ele tinha.
Quando o sinal abriu, ele deu a volta ao quarteirão e voltou para casa.
Agarrou a esposa e foram juntos para casa do morto. Entrou a tremer.
O peso da dor pairava no ar e, ao abraçar a viúva, perguntou o porque?
A resposta veio: "A situação dele estava mal... Não falava com ninguém sobre isso... As firmas à beira da falência ...Ele a viver de aparência... Precisava mostrar-se forte como sempre... medo de perder a influência...
Às 3 da manhã, levantou-se desesperado. Não conseguiu dormir.
Agarrou no telefone e disse que ia ligar para o maior amigo que tinha.
Não queria mais dinheiro, queria apenas um apoio, um ouvido para escutá-lo, uma palavra...


O amigo não estava... não estava...


(Levanta, Zé!)
(Levanta, Zé!)
(Levanta, Zé!)


(NEIMAR DE BARROS)

sábado, 18 de outubro de 2008

TÉDIO

Não há nada mais insuportável para o homem do que estar completamente ocioso, sem paixões, ocupações, diversões ou leitura. Ele sente que não é nada; é só, inadequado, dependente, impotente e vazio. E na mesma hora brota do fundo de seu coração o tédio, o desânimo, a tristeza, a raiva, o desespero, a aflição...
O tédio simplesmente mostra que você está se tornando ciente da futilidade da vida, da constante roda repetitiva. Você já fez todas aquelas coisas antes – nada acontece. Você esteve dentro de todas aquelas viagens antes – não deu em nada. O tédio é a primeira indicação de que uma grande compreensão está surgindo em você, sobre a futilidade, a insignificância, da vida e de seus caminhos.
O tédio é duplamente difícil de ser diagnosticado e curado porque é uma doença privada. Temos vergonha dele. Como a culpa ou a vergonha, nós o escondemos atrás da cortina do silêncio e da negação... Para moldar um quadro real de quanto a nossa vida está moldada pelo tédio, teremos de examinar seus efeitos secundários - todas as maneiras de gastarmos nossa energia tentando escapar desse monstro que juramos não estar atrás de nós.
Debaixo da superfície próspera das nossas vidas, ainda experimentamos frustração e confusão, ansiedade e desespero. Dentro das nossas sociedades, mesmo os mais afortunados têm pouca esperança de liberação completa da frustração e insatisfação... Talvez as nossas tentativas de encontrar satisfação estejam, na realidade, conduzindo-nos a frustrações.
O número de pessoas com um funcionamento limite esteja aumentando, pois elas são o reflexo de uma sociedade pouco preocupada com o bem estar dos cidadãos e mais interessada na globalização e nos efeitos econômicos. Essas pessoas estão em busca de si mesmas, tentando desesperadamente lidar com a dor e o vazio de suas existências. Tentando simplesmente existir!

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

LABIRINTO DA MENTE

Mais um dia... menos um dia... Nunca morri antes como hoje. Sinto a vida cada vez mais escassa. Não sei até quando vou manter minha sanidade e as minhas forças pra continuar...
Hoje, mais uma vez visitei a sala escura sem janela no centro do labirinto da minha mente. Meus pensamentos estão me corroendo lentamente. Sinceramente, não sei se irei continuar por muito tempo.

(I. Martins)

HOTEL FRATERNITÉ


Aquele que não tem com o que comprar uma ilha
Aquele que espera a rainha de sabá na frente de um cinema
Aquele que rasga de raiva e desespero sua última camisa
Aquele que esconde um dobrão de ouro no sapato furado
Aquele que olha nos olhos duros do chantagista
Aquele que range os dentes nos carrocéis
Aquele que derrama vinho rubro na cama sórdida
Aquele que toca fogo em cartas e fotografias
Aquele que vive sentado nas docas debaixo das gaivotas
Aquele que alimenta os esquilos
Aquele que não tem um centavo
Aquele que observa
Aquele que dá socos na parede
Aquele que grita
Aquele que bebe
Aquele que não faz nada

Meu inimigo
Debruçado sobre o balcão
Na cama em cima do armário
No chão por toda parte
Agachado
Olhos fixos em mim
Meu irmão.

(Arnaldo Antunes / Aldo Fortes / Hans Magnus Enzensberger)

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

ALMA REFLETIDA


É difícil definir se ainda há vida em mim
Há anos não tenho mais o equlíbrio que eu tinha
Tudo desandou e o amanhã está cada dia mais incerto
Não sei quantos anos envelheci hoje...
Nem sei se amanhã estarei aqui para ter a audácia de perceber,
Diante do espelho, o que a dor me causou.
Mas o espelho não reflete minha alma
E se o fizesse, eu cairia em cacos, perante infinita morbidez.
Não sei até quando irei dormir sem querer mais acordar
Não sei até quando irei acordar chorando
Não sei até quando estarei morrendo diariamente
Questionando inutilmente por que a vida está me custando tão caro.

(I. Martins)

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

REALIDADES ALTERNATIVAS

“Na nossa vida, acontecem fatos que nos fazem sentir injustiçados de alguma forma. Começamos a nos revoltar e perder o rumo... Tudo começa a desandar e, quando você menos espera, tudo está um caos na sua vida...Tudo foi conseqüência de um único acontecimento... você começa a viver de uma forma que jamais viveria se aquilo não tivesse acontecido... isso se torna a sua "realidade alternativa", na qual você está preso e nunca poderá sair... porque nada será como antes...A vida, então, torna-se um suicídio diário... Sua própria angústia de não ter aquilo q deseja estará sempre te corroendo dia após dia...”

(I. Martins)
__________________________________
VERSÕES DE MIM (Luís Fernando Veríssimo)

Vivemos cercados pelas nossas alternativas, pelo que podíamos ter sido. Ah, se apenas tivéssemos acertado aquele número (unzinho e eu ganhava a Sena acumulada), topado aquele emprego, completado aquele curso, chegado antes, chegado depois, dito sim, dito não, ido para Londrina, casado com a Doralice, feito aquele teste...

Agora mesmo, neste bar imaginário em que estou bebendo para esquecer o que não fiz (aliás, o nome do bar "Imaginário"), sentou-se um cara do meu lado direito e se apresentou:
- Eu sou você, se tivesse feito aquele teste no Botafogo.
E ele tem mesmo a minha idade e a minha cara.
E o mesmo desconsolo.
- Por que o desconsolo? Sua vida não foi melhor do que a minha?
- Durante um certo tempo, foi. Cheguei a titular. Cheguei à seleção. Fiz um grande contrato. Levava uma grande vida. Até que um dia...
- Você hesitou entre sair e não sair do gol. Não saiu, levou o único gol do jogo, caiu em desgraça, largou o futebol e foi ser um medíocre propagandista.
- Como é que você sabe?
- Eu sou você, se tivesse saído do gol.
Levei um chute na cabeça. Não pude ser mais nada. Nem propagandista. Ganho uma miséria do INSS e só faço isso: bebo e me queixo da vida.
Se não tivesse ido nos pés do atacante...
- Eu sou você, se tivesse entrado para o serviço público.

Olhei em volta. Eu lotava o bar.
Todas as mesas estavam ocupadas por minhas alternativas e nenhuma parecia estar contente.
Comentei com o barman que, no fim, quem estava com o melhor aspecto ali era eu mesmo.
O barman fez que sim com a cabeça, tristemente.
Só então notei que ele também tinha a minha cara, só que com mais rugas.
- Quem é você? - Perguntei.
- Eu sou você, se tivesse casado com a Doralice.
- E...?
Ele não respondeu. Só fez um sinal, com o dedão virado para baixo.
Creio que a vida não é feita das decisões que você não toma, ou das atitudes que você não teve, e sim daquilo que foi feito!

Se bom ou não, penso, é melhor viver do futuro que do passado.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

MORTE (Hora do Delírio)


Pensamento gentil de paz eterna
Amiga morte, vem. Tu és o termo
De dois fantasmas que a existência formam,
— Dessa alma vã e desse corpo enfermo.

Pensamento gentil de paz eterna,
Amiga morte, vem. Tu és o nada,
Tu és a ausência das moções da vida,
do prazer que nos custa à dor passada.

Pensamento gentil de paz eterna
Amiga morte, vem. Tu és apenas
A visão mais real das que nos cercam,
Que nos extingues as visões terrenas.

Nunca temi tua destra,
Não vou o vulgo profano;
Nunca pensei que teu braço
Brande um punhal sobre-humano.

Nunca te julguei em meus sonhos
Um esqueleto mirrado;
Nunca te dei, pra voares,
Terrível ginete alado.

Nunca te dei uma foice
Dura, fina e recurvada;
Nunca te chamei inimiga,
Ímpia, cruel, ou culpada.

Amei-te sempre: — pertencer-te quero
Para sempre também, amiga morte.
Quero o chão, quero a terra, - esse elemento
Que não se sente dos vaivens da sorte.

Para tua matança de um segundo
Não falta alguém? — Preencha-a comigo:
Leva-me à região da paz horrenda,
Leva-me ao nada, leva-me contigo.

Milhares de vermes lá me esperam
Para nascer de meu fermento ainda,
Para nutrir-se de meu suco impuro,
Talvez me espere uma plantinha linda.

Vermes que sobre podridões refervem,
Plantinha que a raiz meus ossos fera,
Em vós minha alma e sentimento e corpo
Irá em partes agregar-se à terra.

E depois nada mais. Já não há tempo,
nem vida, nem sentir, nem dor, nem gosto.
Agora o nada — esse real tão belo
Só nas terrenas vísceras deposto.

Facho que a morte ao limiar apaga,
Foi essa alma fatal que nos aterra.
Consciência, razão, que nos afligem,
Deram em nada ao baquear em terra.

Única idéia mais real dos homens,
Morte feliz — eu quero-te comigo,
Leva-me à região da paz horrenda,
Leva-me ao nada, leva-me contigo.

Também desta vida à campa
Não transporto uma saudade.
Cerro meus olhos contente
Sem um ai de ansiedade.

E como um autômato infante
Que ainda não sabe mentir,
Ao pé da morte querida
Hei de insensato sorrir.

Por minha face sinistra
Meu pranto não correrá.
Em meus olhos moribundos
Terrores ninguém lerá.

Não achei na terra amores
Que merecessem os meus.
Não tenho um ente no mundo
A quem diga o meu - adeus.

Não posso da vida à campa
Transportar uma saudade.
Cerro meus olhos contente
Sem um ai de ansiedade.

Por isso, ó morte, eu amo-te e não temo:
Por isso, ó morte, eu quero-te comigo.
Leva-me à região da paz horrenda,
Leva-me ao nada, leva-me contigo.


(Junqueira Freire)

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

17 ARNALDOS


Arnaldo Antunes é , além de músico e compositor, um grande poeta. Também atuou como ensaísta na Folha de S. Paulo, sendo assim um crítico bem informado e competente, pois nestes ensaios é que podemos detectar o substrato teórico que transparece no seu trabalho estético. E pela grande admiração que tenho pelo seu trabalho, estou postando um texto, dentre centenas de obras-primas que ele possui.


"Viver não tem volta
O dia de amanhã chegou
A culpa é de todo mundo
O rio não sabe onde vai
Que versão da verdade
Se o chão rachar o teto cai
Vivo de morrer
Deixar de ser pra deixar ser
Crescer dói
Perder liberta
De comerciante sem troco
Todo mundo tem um pouco
Não faço direito
Faço do meu jeito
O olho não se enxerga
O olho reflete o que vê
O avesso do espelho é você
Fecha os olhos e manda ver"

(Arnaldo Antunes)

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

TORMENTA


Há momentos, do nada, atormentam-me a lembrança de um tempo em que tudo parecia estar bem e num piscar de olhos se desfizeram todos os meus sonhos, planos e possibilidades de ter uma vida aparentemente feliz.

Poucos segundos desses pensamentos e lembranças destróem seu dia, sua semana ou até o resto da sua vida que já está em ruínas.

O tempo passa e isso não muda...

Talvez, amanhã será igual.

(I. Martins)

domingo, 5 de outubro de 2008

FLORES NEGRAS


Eu quero ouvir o silêncio
Eu quero ver a escuridão
Quero cessar meus pensamentos
Quero tocar no abstrato

Quero chegar ao fim do abismo
Quero sair dessa prisão sem grades
Quero cuspir toda essa dor
Quero me desamarrar dessa angústia

Eu quero me encontrar nas esquinas do deserto
Cercado pelas sombras de anjos de asas quebradas
Eu quero me evaporar,
Assim como as minhas lágrimas
E formar uma nuvem negra
Que choverá sobre os vales
Fazendo surgir flores negras e mortas
Que se alimentarão da dor que o mundo transmite.

(I. Martins)

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

ACRÓSTICO 1


Não consigo deixar em seu devido lugar
Aquilo que ficou para trás...
Os dias de ontem destruíram meu amanhã.

Sozinho vago por um mundo frio e sombrio...
Encontra-se aberta a porta para o desespero,
Iniciando assim um final bem previsível.

Mesmo que, por um momento, eu me distráia
A minha alegria é instantânea
Infinitas tornam-se as horas de angústia
Sugerindo um passeio pela escuridão.

Quando irei superar tudo isso?
Ultimamente a resposta é a mais temível.
Enfrento tempestades mentais dia após dia
Minha vida, há muito tempo, acabou-se.

Estando à beira de um abismo,
Um passo à frente é não desejar ir adiante.

Sinto que a cada hora que passa arrastando-se,
Ocasiona, em mim, perdas irrecuperáveis
Uma vez... lembro-me, eu tive motivos para sorrir.

(Icaro Martins)