terça-feira, 21 de outubro de 2008

UMA HISTÓRIA DE OMISSÃO

LEVANTA, ZÉ

"Mulher, a partir de hoje não vou atender mais o telefone.
Diz que nao estou, sei lá, qualquer coisa!
- E se for alguma coisa importante?
- Não quero saber, tenho a minha vida, os meus negócios e quero sossego aqui em casa, os outros que se lixem, que deixem recado!
- Pai, o telefone está a tocar!
- Se for pra mim, filho, MINTA, diz que eu não estou!
- Mentir???
- Isso mesmo, ou tu nunca fizeste isso?
Eram três horas da madrugada quando o telefone iniciou o seu grito da noite.
Tocou, tocou e tocou e ninguém atendeu.
A esposa dizia: - Levanta Zé!
- Eu não! Não vou descer as escadas para atender o telefone. Quem quiser falar comigo que fale de dia... ou melhor, deixe recado de dia.
- Levanta, Zé!
- Não vou, não vou, e não vou...!
Três e quinze. O telefone parou de tocar. Dormiram o sono dos justos.
No dia seguinte, foi para a empresa. Caprichos do "destino": o sinal vermelho apareceu. Parou o carro. Ao seu lado, na calçada, uma banca de jornal. Um jornal escancarado com uma manchete violenta: "SUICÍDIO NO BAIRRO MILIONÁRIO".
A fotografia abaixo era... era a do seu amigo, sim, do melhor amigo que ele tinha.
Quando o sinal abriu, ele deu a volta ao quarteirão e voltou para casa.
Agarrou a esposa e foram juntos para casa do morto. Entrou a tremer.
O peso da dor pairava no ar e, ao abraçar a viúva, perguntou o porque?
A resposta veio: "A situação dele estava mal... Não falava com ninguém sobre isso... As firmas à beira da falência ...Ele a viver de aparência... Precisava mostrar-se forte como sempre... medo de perder a influência...
Às 3 da manhã, levantou-se desesperado. Não conseguiu dormir.
Agarrou no telefone e disse que ia ligar para o maior amigo que tinha.
Não queria mais dinheiro, queria apenas um apoio, um ouvido para escutá-lo, uma palavra...


O amigo não estava... não estava...


(Levanta, Zé!)
(Levanta, Zé!)
(Levanta, Zé!)


(NEIMAR DE BARROS)

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